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Charles de Foucauld: fortalecer sempre a nossa fé. Inácio José do VALE
“Deus faz uso de ventos contrários para nos conduzir ao porto seguro”, afirma Charles de Foucauld
No confronto de tantas incompatibilidades do mundo atual e da franqueza aparente das forças espirituais, nossos corações têm necessidade mais do que nunca de acreditar no poder de Deus e da ação de seres humanos que vivem o santo Evangelho de Cristo. Precisamos fortalecer sempre a nossa fé e acreditar no futuro glorioso. Eis porque, no século vinte, como em todas as épocas, o bom Deus associa às afirmações do Sermão da Montanha o exemplo vivo de certos homens e mulheres chamados por Ele a serem evangelhos vivos. Há vários apóstolos em nosso tempo, e dentre eles temos o humilde eremita Charles de Foucauld que não cessa de crescer, por causa da incomparável coragem e missão com que se deu à vida evangélica. No entanto, longe de separar-se do mundo, engajou-se nele profundamente para revelar um abissal amor e esperança que tem poder de triunfar a paz, a caridade e a justiça pelo mundo melhor. Do deserto do Saara em Tamanrasset, África, onde exerceu seu ministério evangélico e também foi martirizado, acreditou com todas as forças na grandeza do amor de Deus e do amor ao próximo e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré. O seu projeto pregado e vivido era de fraternidade universal. A vida e a obra de Charles de Foucauld, cujo fundamento era gritar com o seu testemunho o Evangelho, tem seu legado autenticado é atestado pela semente espiritual que após a morte dele não para de crescer e sua mensagem é de uma riqueza profunda para o nosso tempo, ou seja, é viva e eficaz para sempre. Seu carisma e sua espiritualidade têm conquistados seguidores no mundo inteiro.
Na arena dos heróis da fé que lutaram e venceram pelo Reino de Deus, podemos tirar dos seus exemplos alimentos para nossa fé e com a maravilhosa graça de Deus podemos testemunhar da mesma forma que eles e ter o mesmo fim para glória da Igreja de Cristo.
É descobrindo testemunha de Jesus Cristo como o bem-aventurado Charles de Foucauld, que a nossa vida é fortalecida na santíssima fé em Deus Todo-Poderoso e temos certeza que a vida tem sentido no porto seguro do amor, da graça e da providência divina. Daí, ter como plataforma uma espiritualidade é possuir firme fundamento para caminhar rumo á vida eterna. Segue nessa jornada leituras espirituais, a Bíblia Sagrada, Eucaristia, retiros espirituais e contínua formação em espiritualidade. Todo o nosso ser é preenchido no esmero das coisas do Pai Eterno. A nossa felicidade é tudo isso e na transmissão desse tesouro ao nosso semelhante. Nosso Senhor Jesus Cristo fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho (cf. 2 Tm 1, 10).
“Sentindo-se nas mãos do Amado (Jesus), e o que Amado, que paz, que doçura, que profundezas de paz e confiança!” (Charles de Foucauld, carta para Henry de Castries, 27 de Fevereiro 1904).
Frei Inácio José do Vale
Escritor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
(English) Iesus Caritas priests visiting priests. Klaus BEURLE
(Español) Horeb Ekumene, marzo 2019
(Deutsch) Cebu, Berich eines Teilnehmers. Matthias KEIL
Carta de Cebu, janeiro 2019, assembleia internacional
De 15 a 29 de janeiro de 2019, ganhamos um magnífico presente do Senhor: a Assembleia Internacional da Fraternidade Jesus + Caritas, nas Filipinas. Nos hospedamos na Talavera, “House of Prayer, Casa de Oração” dos Agostianianos Recoletos, em Cebu, e ali vivemos uma bela experiência de fraternidade universal à luz deste tema: “Sacerdotes missionários diocesanos, inspirados no testemunho de Carlos de Foucauld”.
Somos muito gratos às fraternidades sacerdotais Jesus Caritas das Filipinas, bem como à Igreja diocesana de Cebu, representada pelo seu pastor, Dom José Palma, que nos acolheu com generosidade. Somos 42 irmãos vindos da África, América, Ásia e Europa, cada um com sua língua, sua cultura, sua história, suas experiências, seus testemunhos … Foi uma bela e preciosa manifestação do Espírito de Pentecostes.
Tivemos a alegria de encontrar o povo de Deus em Cebu, participando nas celebrações eucarísticas dominicais. As festividades de “Señor Santo Niño” e “San Sebastián” nos fizeram ver um povo apaixonado por Deus, e que celebra com uma alegria contagiante.
Dois acontecimentos nos deixaram felizes e entristecidos durante a assembleia: a libertação de nosso irmão Denis Sekamana, em Ruanda, depois de uma longa prisão, e o ataque em 27 de janeiro na Catedral de Jolo, com teve mais de vinte mortos e mais de 80 feridos. Rezamos por todas as vítimas e pelo progresso da paz.
CONTEMPLAÇÃO DA REALIDADE
A equipe internacional coordenou efetivamente as atividades da assembleia através de uma metodologia em três etapas: contemplar a realidade, discernir e comprometer. Começamos ouvindo as realidades que as fraternidades vivem em seus respectivos países.
Na sociedade
- Progressivamente, a distribuição de riquezas vai piorando. Os ricos ficando cada vez mais ricos, enquanto os pobres são deixados na miséria.
- Os pobres lutam para defender seus direitos, mas são as primeiras vítimas da violência e do tráfico de todos os tipos, que surgem da pobreza. O desprezo dos homens pelo meio ambiente e a exploração abusiva dos recursos do planeta causaram uma grave crise ecológica, e os pobres são as principais vítimas.
- As migrações causadas pela violência e pela insegurança se expandem, no entanto, os países ricos fecham suas fronteiras.
- Em alguns países a capacidade de seus governantes de resolver os problemas da sociedade está sendo questionada, e os partidos nacionalistas e xenófobos estão conseguindo aumentar seu poder,
- Em outros países, grupos extremistas provocaram divisões nas comunidades e espalharam medo e desconfiança nos corações das pessoas.
- O Islã é atravessado por correntes contraditórias e, em certos países, o fundamentalismo e o terrorismo crescem. Cristãos e muçulmanos estão sofrendo.
- Graças às ONGs, existe uma crescente criatividade procurando responder aos grandes desafios da defesa dos direitos humanos, imigração, ecologia, solidariedade com os pobres e convivência na diversidade de culturas.
Na igreja
Em alguns países, o número de cristãos diminui e a indiferença aumenta em relação à religião e à Igreja. A secularização e o escândalo do abuso de menores por padres e bispos degradaram ainda mais essa situação
- Mas muitos sinais de esperança apareceram com a exortação do Papa Francisco “Evangelii Gaudium”.
- Esta exortação conduz a Igreja a um novo caminho missionário mais coerente com as esperanças do povo e mais fiel ao Evangelho.
- Chama-nos a viver na simplicidade e em proximidade com os pobres e a sair para as “periferias”.
- Constatamos que há um aumento no número de leigos que estão mais comprometidos com a sua fé, e que são eles mesmos os evangelizadores.
- Estamos mais abertos ao diálogo com os leigos e com os crentes de outras confissões e outras religiões,
- Percebemos a necessidade de desenvolver iniciativas pastorais para formar pequenas comunidades de base, nas quais a semente do Evangelho possa crescer em meio aos desafios que as pessoas têm que enfrentar.
Nas fraternidades
- Diminuição do número de membros em algumas fraternidades, devido à idade
- Em muitas fraternidades, a revisão da vida e o dia de deserto não são praticados. É um desafio que devemos levar a sério!
- As fraternidades estão crescendo nos países do sul.
- Existe uma boa comunicação entre as fraternidades do Norte e do Sul.
- A vida de fraternidade se desenvolve graças aos encontros mensais.
- As fraternidades vivem parcialmente a adoração eucarística.
- A vontade de estar perto dos pobres é uma prioridade nos nossos compromissos.
OS CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO
As meditações de cada dia, as palestras e a partilha de experiências nos ajudaram a aprofundar o discernimento de todas as realidades contempladas.
Emmanuel Asi e Honoré Savadogo nos ajudaram, diariamente, a meditar sobre o Evangelho do dia e os pensamentos do irmão Carlos. Emmanuel convidava-nos a acolher o chamado de Cristo, abrindo nossos corações aos nossos irmãos e irmãs marginalizados e Honoré convidava-nos a seguir de perto os passos do irmão Carlos.
As palestras do Maurício da Silva, Jean-François Berjonneau e Manolo Pozo Oller levaram-nos a redescobrir os fundamentos da missão e da espiritualidade missionária do Irmão Carlos e do Papa Francisco. Estas palestras foram um chamado urgente para assumirmos as convicções missionárias de se tornar “Igreja na Saída” que anuncia a Boa Nova àqueles que estão nas periferias geográficas e existenciais da vida. Eles também destacaram alguns desafios atuais da missão: a degradação de nossa “casa comum”, a emigração e o diálogo com os muçulmanos.
No capítulo dos testemunhos sentimo-nos muito motivados pela partilha de Mariano Puga sobre a sua experiência pastoral com os pobres e oprimidos. Fernando Tapia nos apresentou o documento sobre o mês de Nazaré preparado por ele, Jean-Michel Bortheirie e Manolo Pozo Oller. Nos motivamos uns aos outros a encontrarmos tempo necessário para este importante exercício de nossa espiritualidade, tal como nos é orientado neste belo guia.
OS CHAMADOS QUE NÓS PERCEBEMOS
Diante desta situação, e de acordo com os critérios enunciados, aqui estão os apelos para a nossa fraternidade:
No coração das nossas sociedades
- Queremos pôr em prática em nossos países essa “fraternidade universal” que o irmão Carlos nos convida a viver, colocando-nos do lado dos mais pobres.
- Para respeitar com eles este planeta que o Criador nos confiou,
- Para lutar com eles por mais justiça.
- Para que a dignidade de cada pessoa seja respeitada e todos possam ter a sua quota de pão e trabalho.
Ao serviço das nossas igrejas
Nós ouvimos o chamado para:
- Participar plenamente desta “transformação missionária” à qual o Papa Francisco nos chama na “Evangelii Gaudium”.
- Consolidar as comunidades cristãs de base em torno da Palavra de Deus.
- Desenvolver a colaboração entre sacerdotes e leigos para nos comprometermos juntos na missão e lutar contra o clericalismo.
- Ajudar nossas comunidades a “estarem em saída para as periferias geográficas e existenciais”.
- Transformar a pobreza de nossas comunidades num caminho de solidariedade com os pobres.
- Aprender a dialogar com aqueles que acreditam ou pensam de forma diferente.
- Contribuir para viver com todos os grupos que compõem a sociedade.
- Convide nossas igrejas para acolher os imigrantes como irmãos e, neles, o próprio Cristo.
Em nossas fraternidades
Sentimo-nos chamados a uma conversão para praticarmos os meios da fraternidade:
- praticar uma autêntica “revisão de vida” como um trampolim para a missão,
- Respeitar o tempo de adoração eucarística e os dias de deserto, indispensáveis para seguir a Cristo no caminho para os outros.
- Fazer do Mês de Nazaré uma etapa importante para reler nosso ministério e ajustá-lo ao caminho do irmão Carlos.
- Desenvolver o relacionamento entre as fraternidades dos diversos continentes, graças à página “iesuscaritas.org”.
- Divulgar a espiritualidade do irmão Carlos para as jovens gerações.
A ELEIÇÃO DO NOVO RESPONSÁVEL INTERNACIONAL
Agradecemos ao nosso irmão Aurélio e sua equipe pelo belo trabalho realizado ao longo destes seis anos.
Escolhemos Eric Lozada, das Filipinas, como nosso Responsável internacional. Ele é o primeiro irmão na Ásia a assumir esta responsabilidade. Nós invocamos sobre ele o sopro do Espírito Santo, para que sua missão seja fecunda. Na sequencia, ele montou sua equipe, composta por Fernando Tapia, Honoré Savadogo, Matthias Keil e Tony Llanes.
Contamos com estes irmãos de nossa nova equipe para nos ajudar a “gritar o Evangelho com toda a nossa vida” e dar um novo sopro espiritual e missionário às nossas fraternidades, como o Papa Francisco nos lembra: “O Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda de nossa esperança, e não nos faltará sua ajuda para cumprir a missão que nos confia” (Evangelii Gaudium N ° 275).
Nas fotos acima, os irmãos responsáveis e os delegados
na Assembleia internacional de Cebu, Filipinas, em janeiro de 2019.
PDF: Carta de Cebu, janeiro 2019, assembleia internacional, port
A missionaridade do presbítero diocesano. Mauricio da SILVA JARDIM
XI Assembleia Geral, Cebul, Filipinas – 15 a 30 de janeiro 2019.
A missionariedade do presbítero diocesano – Fundamentação
OBSERVAÇÕES INICIAIS:
É determinante ter claro os fundamentos da missão. Uma palavra hoje muito usada. Chega-se dizer que tudo é missão.
Toda obra, antes de ser construída, necessita de planejamento. A construção começa pelos alicerces e fundamentos que garantem a sustentação do prédio. Na missão, não é diferente. Precisamos deixar claro os fundamentos da única missão que é de Deus.
A concepção de missão está muitas vezes reduzida a fazer coisas, elaborar esquemas, projetos, cursos, visitas, experiências, simpósios e congressos. Isto define-se como missão programática.
A missão ao longo da história foi delegada a congregações e grupos com carisma missionário. Foi perdendo-se a noção de missão como identidade, essência, natureza de todo povo de Deus. Alguns ainda tem a concepção, de que missionários (as) são somente aqueles que partem para outra nação.
CONCEITO DE MISSÃO:
Na sua origem, a palavra “missão” significa “envio”, “partir”, “sair”.
O termo latino, missio quer dizer também “libertar”, “deixar andar”, “soltar”: o envio “tem tudo a ver” com liberdade e libertação.
O Concílio Vaticano II recuperou a concepção teológica sobre a natureza da missão.
MISSIO DEI:
Essa visão se fundamenta, no conceito de missão que tem sua origem no “amor fontal” do Pai, um amor que sai de si por sua própria natureza para chegar a todos (AG,2).
A Missão, portanto, é uma só. Ela é de Deus, nasce no coração da Trindade. Deus é missão. O amor de Deus é um amor que não se contém, que transborda, que se comunica, expande, dilata, irradia, difunde e sai de si.
O próprio Deus se auto envia pela missão do Filho e do Espírito. O Filho é enviado pelo Pai na força do Espírito Santo.
Impulso de dentro para fora:
A origem de todo movimento missionário está no coração da Trindade. O amor de Deus Pai não se contém e se comunica. Deus é missão e a missão vem de Deus porque Deus é amor. Missão diz respeito ao que Deus é e não, primeiramente, ao que Deus faz. A missão revela a essência de Deus de se comunicar e de criar relação. Por isso, a missão não teria, a princípio, um seu porquê, não surgiria primeiramente de uma necessidade histórica, mas é um impulso gratuito, de dentro para fora, e de um jeito de ser que têm como origem e fim a vida divina (cf. DAp 348).
A SAÍDA DE DEUS:
Deus é o primeiro a sair de si mesmo para libertar, salvar, curar…
“Ele viu a opressão do povo no Egito, escutou seus clamores e sofrimentos e desceu para libertá-los das mãos dos Egípcios e levá-los para uma terra boa e vasta, onde emanam leite e mel (Ex 3, 7-8).
CONCEPÇÃO ECLESIOLÓGICA E MISSILÓGICA
“A Igreja não possui uma missão, mas a missão possui a Igreja” (Diálogos proféticos, Stephen Bevans e Roger Schroeder, p.34).
Missão é a própria essência de Deus que tem uma Igreja vocacionada a ser testemunha de Cristo no mundo e na história, até os confins da terra e o final dos tempos. “A ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja” (EG 15).
Como a missão nasce em nós?
ENCONTRO
A missão começa com a escuta da voz de Deus. “Ouvir o que diz o Espírito as Igrejas”.
Encontro com Jesus Cristo. É um encontro que dá novo horizonte à vida.
É um encontro apaixonante que se expande. O documento de Aparecida fala de dez lugares de encontro (246-258).
“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp, 29).
Missão a partir de Jesus Cristo
Cristo, luz para os povos (LG,1).
O momento atual é oportuno de propor uma direção, referência, um sentido para vida das pessoas que é Jesus Cristo. Há uma crise de sentido. A fé Nele tem implicações práticas, ou seja, irradiar fé, bondade, misericórdia, compreensão.
A evangelização não é feita somente por palavras, sobretudo pelo testemunho de vida. Ir. Carlos é um modelo de missão testemunhal. Missão pela simples presença, gratuidade e bondade.
PAIXÃO
“Missão é paixão por Jesus Cristo e simultaneamente paixão pelo seu povo” (Evangelii Gaudium, 268).
Sem esta paixão a missão fica reduzida a fazer muitas coisas, andando de um lado para o outro, sem mística e sem ardor. Missão é pois, questão de paixão e identidade cristã.
Qual objetivo da ação missionária?
Transmitir a fé está no coração da missão da Igreja. “A Igreja existe para evangelizar”.
A Igreja é continuadora da missão de Jesus.
Proclamar e anunciar a boa notícia de Deus.
A Igreja deve estar a serviço da implantação do Reino de Deus. Ela não é fim, é meio, instrumento, sinal de salvação.
Salvar, curar, libertar…
Na missão, a salvação está em primeiro lugar, o jurídico, institucional e doutrinal devem estar a serviço da salvação.
Assumir o jeito de viver de Jesus Cristo. “Jesus Cristo, passou por este mundo fazendo o bem (At10,38). A vida e o testemunho são mais importantes do que a teoria.
Para missionar é fundamental experimentar a ação de Deus em nós.
A missão se propaga por contágio pessoal. “A fé cresce por atração” (Bento XVI).
MENOS E MAIS.
“ Zero burocracia e menos administração. Mais paixão, mais amor e mais anúncio do Evangelho” (Papa Francisco, reunião dos diretores das POM em Roma, junho de 2017).
Jesus convocou o grupo dos doze para que primeiro permanecesse com Ele e depois os enviou a pregar (Cfe. Mc 3,14). A primeira tarefa do missionário (a) é permanecer com Ele para deixar-se conformar pela Sua identidade. Deste encontro, nasce a missão que não tem fronteiras.
ESPÍRITO SANTO É O PROTAGONISTA
Missão é pois, uma questão de fé, de abandono a Deus. Por isso, a primeira obra é rezar pelas missões. O protagonista é o Espírito Santo. Somos Cooperadores (as) da missão de Deus.
COOPERAÇÃO MISSIONÁRIA
Se na missão toda iniciativa é Deus. Qual a nossa parte?
Deus quis precisar de nós para a missão que é Dele. Necessita de nossa colaboração, de nosso sim, de nossos pés, mãos, olhos, ouvidos, de nossa proximidade com Seus filhos (as).
Está continuamente chamando colaboradores (as).
Eu sou uma missão…
O papa Francisco tem falado da dimensão existencial da missão: “Eu sou uma missão de Deus nesta terra, e para isso estou neste mundo” (Evangelli Gaudium, 273). A vida se torna uma missão. Ser missionário (a) está além de cumprir tarefas ou fazer muitas coisas. Está na ordem do ser. É existencial, identidade, essência e não se reduz a algumas horas do dia. Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate o papa chega afirmar: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão” (27). A missão nos tem.
O movimento da saída: a proximidade
Qual motivo teríamos para sairmos de nós mesmos, de nossa comunidade, de nossa terra, se não tivéssemos algo que nos impele a fazer isso?
1. Poderíamos sair atraídos pelo encanto com o desconhecido ou pela curiosidade de visitar outros lugares, encontrar outras pessoas e culturas diferentes: então, faríamos turismo, ou algo parecido, como intercâmbio, negócios, pesquisas, etc.
2. Poderíamos sair com o desejo de conquista, querendo expandir nossa organização, nosso mundo, explorando o mundo dos outros segundo a nossa visão e as nossas necessidades: então, isso seria colonização.
3. Poderíamos sair para fugir de nossa realidade e de nós mesmos, buscando inspiração ou uma realização pessoal em outros lugares: se tirarmos o caso dos migrantes e dos refugiados que fogem para sobreviver, poderíamos dizer que essa saída teria ainda como razão de fundo um desejo pessoal.
IGREJA EM SAÍDA
No caso da Igreja, a motivação de seu sair não está em si mesma. Ao contrário, trata-se de um “movimento de saída de si mesma” (EG, 97). “O discípulo-missionário é um descentrado – diz Papa Francisco – o seu centro é Jesus Cristo, que convoca e envia”. Aqui está o permanente discernimento e a atitude penitencial da “Igreja em saída”, pois ela, ao sair, poderia estar colocando ao centro a si mesma. “Quando a Igreja se erige em ‘centro’, se funcionaliza, torna-se cada vez mais auto referencial e enfraquece a sua necessidade de ser missionária”. ( Discurso do papa Francisco JMJ, 28 de julho de 2013).
Portanto, o motivo do sair da Igreja é exclusivamente Jesus que envia e Jesus que é a razão do enviar. Com efeito, a missão é um mandato: somos enviados não porque queremos, mas porque somos desafiados por Alguém a tomar iniciativa (cf. EG 24). Em segundo lugar, somos enviados porque o Evangelho, por ser uma “Boa Notícia”, tem em si um conteúdo avassalador em seu dinamismo de “saída” (cf. EG 20).
Portanto, a Igreja é chamada a estar “em saída” como o seu Senhor que “sabe ir à frente, sabe tomar iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos” (EG, 24).
Este é o tempo para a Igreja reencontrar o sentido de sua missão, libertar-se das amarras que a impedem de “sair”, de ser uma Igreja em saída.
É com este objetivo que o Papa Francisco convoca a Igreja a “sair”, assumir a dinâmica do “êxodo”.
EM MOVIMENTO DE SAÍDA
A Igreja não é feita para ficar apenas constituída em suas instituições, em seus assentos e em suas estruturas: ela existe para estar em movimento e se lançar ao mundo.
Essa é sua natureza:
sua razão de ser está em “sair”.
O QUE NOS IMPEDE DE SAIR?
Duas realidades paralisam a Igreja na sua missionariedade:
→a tentação de ficar no “centro”.
→ a preocupação com “querer ser o centro”. Tentação da auto-referencialidade.
“Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede…(Evangelii Gaudium, 20).
Discernimento para sair
O horizonte existencial da Igreja em saída são as periferias. O horizonte escatológico é o Reino de Deus. Iluminados pela alegria do Evangelho, cada comunidade deverá discernir quais periferias geográficas e existenciais precisam de uma atenção especial e da luz do Evangelho.
Essa saída, porém, não pode esquecer
da missão ad gentes, além-fronteiras.
Sair de que maneira?
A saída da qual fala o documento Evangelii Gaudium, é uma saída profunda, que toca as dimensões mais íntimas da vida dos discípulos missionários e da Igreja. Não é sair simplesmente para impor a nossa vontade e a nossa visão de mundo, querendo “organizar” o mundo dos outros.
Isso não é missão, é colonização.
A saída exige permanecer…
Para sair é preciso permanecer ligado Àquele que nos envia. Ao essencial, a Jesus e seu Evangelho. A saída é uma viagem para fora e para dentro de nós mesmos. Ao sair também encontramos Deus na carne sofredora de Cristo.
Somos uma Igreja em saída e somos uma Igreja que volta da missão para testemunhar a alegria do Evangelho.
O movimento de entrada: o encontro
O processo de saída implica um processo de entrada:
Entramos na casa do outro como hóspedes para encontrar. Este movimento demanda Kenósis, despojamento.
Entrar como hóspede é assumir a condição de peregrino e de estrangeiro que nos proporciona o dom inestimável do outro, sua experiência.
Exige espírito de adaptação, capacidade de comunicação, disciplina na inserção, paciência na travessia, generosidade na entrega, grande sensibilidade e paixão pelo povo que nos acolhe.
ÂMBITOS DA MISSÃO
A Igreja existe para cooperar com a missão de Deus (cf. 1Cor 3,9; EG 12).
a. Pastoral – comunidades (em casa).
b. Nova Evangelização – sociedade (fora de casa).
c. Missão ad gentes – sem fronteiras (na casa do outro). Horizonte maior para entender os outros âmbitos que são interconexos e interligados.
Missão Ad Gentes
“A transmissão da fé, coração da missão da Igreja, realiza-se pelo “contágio” do amor, em que a alegria e o entusiasmo expressam o descobrimento do sentido e da plenitude da vida. A propagação da fé por atração requer corações abertos, expandidos pelo amor. Não se pode colocar limites ao amor: forte como a morte é o amor (cf. Ct 8, 6). E tal expansão gera o encontro, o testemunho, o anúncio; gera a partilha na caridade com todos aqueles que estão longe da fé e se mostram indiferentes, às vezes contrários a ela”… Ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e a presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os “últimos confins da terra”, para onde, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na certeza de terem sempre o seu Senhor com eles (cf. Mt 28, 20; At 1, 8). Isso é o que chamamos de missio ad gentes” (Discurso do Papa Francisco no Dia Mundial da Missões, 2018).
O que é Missão Ad Gentes?
Entre aqueles que não conhecem Jesus Cristo no meio de outros povos e sociedades. Missão na casa do outro. A cooperação missionária diz respeito à missão ad gentes, a todos os povos.
A participação de cada Igreja local na missão universal, com os outros povos e com as outras igrejas.
Além do aspecto territorial e geográfico, se reflete hoje, o novo ambiente cultural indiferente ao Evangelho.
Missão Ad Gentes – desvios.
A missio ad gentes foi e é marcada pela mentalidade colonial, ou seja, há um certo complexo de superioridade em relação a outros povos, culturas, tradições, estilos de vida. O outro compreendido como destinatário e não como sujeito. É uma mentalidade marcada de fazer missão para e não com os outros. Alguns verbos que traduzem este movimento colonizador é ensinar, conquistar, levar, implantar, construir. Nesta mentalidade se desconsidera o trabalho realizado por outras pessoas que chegaram antes de nós. A missão evangelizadora não tem início com minha chegada.
Este modo de pensar a missão, não difere dos projetos coloniais que desprezaram as culturas locais para implantar uma nova mentalidade. A resistência a missio ad gentes que muitos agentes pastorais têm, passa pela compreensão da missão na perspectiva colonizadora. Ainda hoje, os missionários (as) chegam com o Kit pronto, vinculando a missão ao conceito de desenvolvimento, progresso e transplante da Igreja em outra cultura. Se fala mais do que se escuta não valorizando o outro como interlocutor. Cremos ou não no protagonismo do Espírito Santo que nos antecipa na missão?
Charles de Foucauld
É fundamental não abandonarmos o critério missionário da encarnação num mundo cada vez mais plural. Na mentalidade colonizadora se despreza as línguas locais, as tradições e os planos pastorais das Igrejas locais.
Na fraternidade temos o exemplo do beato Charles de Foucauld que soube respeitar e aprender a língua e tradições locais, exercendo o ministério da bondade e da simples presença gratuita.
Pe. Maurício da Silva Jardim
Brasil
PDF: A missionaridade do presbítero diocesano. Mauricio da SILVA JARDIM