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O pequeno como força para grandes entregas
São onze anos que venho praticando com freqüência o dia mensal de deserto. E, ainda que seja difícil apontar os frutos que esta experiência tem amadurecido em mim (o essencial do trabalho do Espírito é invisível aos nossos olhos), posso afirmar, com muita modéstia, que esta prática me fez mergulhar no silêncio interior, base da vida contemplativa.
Em meus dias de deserto, tenho conhecido as horas de alegria e a aridez, os encontros lúcidos e serenos com o Senhor e as longas e aborrecidas esperas que parecem conduzir a nada.
O dia do deserto se revela sempre com um lance na aventura do coração crente em busca do seu Senhor. Porém, no conjunto desses anos transcorridos, mantendo com assiduidade a prática do deserto, posso ver agora, com certa perspectiva, que os dias cinzentos não estavam, de modo algum, mais longe do Senhor do que aqueles outros que nos pareciam luminosos e esplêndidos; o essencial, do dia do deserto, é esse desprendimento total, essa espera silenciosa em Deus, vivida na inatividade e na ruptura com as ocupações habituais.
POR QUE UM DIA MENSAL DE DESERTO?
O fator “periodicidade” joga um papel determinante nesta experiência do dia do deserto.trata-se de ir cultivando em nós uma capacidade e uma necessidade de agendar que não são filhas da improvisação, do acaso. Naturalmente, a todos nos custa romper com nossas ocupações do dia a dia (achamo-nos tão necessários na tarefa que cada um desempenha…!).
Custa-nos também romper com nossos hábitos e comodidade doméstica, que nos proporciona
Certa segurança e fortaleza no conjunto de nossa imagem social. Pois bem. O dia de deserto obriga, ao menos uma vez por mês, a romper com a atividade e as preocupações prefixadas, para poder descobrir que todo trabalho tem raízes mais profundas das que ordinariamente lhe atribuímos e que caminhos batidos demais atrofiam ou mantém adormecidas algumas das nossas melhores qualidades. Quantas vezes, ao sair de manhã bem cedo para o lugar do deserto, vendo os meus vizinhos do bairro saírem também, mas… para os seus trabalhos cotidianos, tenho chegado a sentir vergonha e pensar que eu era privilegiado. Um dia inteiro para mim, para fazer o que eu quisesse. Quem pode dispor, pensava eu, desde luxo? Submergido, porém nos caminhos da solidão dos dias de deserto, encontrava a resposta a tão acusadora inquietude. Sim, é um privilégio, ou melhor, é um dom que não se dá a mim somente. É uma graça que me ajuda a ser mais autêntico em meu ser e em meu agir. Nesse sentido, torno-me mais autêntico e solidário nos caminhos desses irmãos que não tem descoberto (e não é por culpa deles) a necessidade de uma pausa no caminho para sentir outras palpitações da vida que não se escutam entre o fazer, o ser protagonista e o competir a quem nos força esta dura necessidade de sobreviver.
COMO SE FAZ UM DIA DE DESERTO
Para o dia do deserto não se deve preparar alguma coisa. É necessário preparar-se (isto sim) a si mesmo. Não se deve ir ao deserto somente com o corpo. É preciso levar o espírito convenientemente preparado mediante o desejo vivo do encontro com Deus. Esta disposição de ânimo deve vir propiciada por uma série de condições externas que é preciso cuidar com esmero. Minha experiência me adverte que, sem tais condições, o deserto degenera com facilidade num dia de campo, numa explosão de paisagens, coisas aliás boas de si, que podem Ser integradas no dia do deserto, mas que jamais se podem comparar com ele. Estas condições mínimas podemos resumi-las assim:
CLIMA DE VERDADEIRA SOLIDÃO
Buscar lugares distantes das pessoas. Esse espaço melhor nos dispõe a nos encontrarmos com as pessoas, das quais nós antes tínhamos nos distanciado, sob outras perspectivas que não seja o encontro massificado e barulhento de sempre.
NÃO OCUPAR O TEMPO COM LEITURAS
A bíblia, o Saltério, podem ajudar. No início dedicava-me a eles na maior parte do dia de deserto. Pouco a pouco, porém, tenho sentido a necessidade de prescindir também desses livros. A Palavra de Deus vai ressoando viva de outra maneira, por dentro.
AUSTERIDADE NA COMIDA
O ideal seria que a comida seja preparada pelo retirante no dia anterior. Tomar alimentos que não sejam pesados, que não induzem ao sono. No deserto, até a comida material no deve lembrar que ali estamos para sermos alimentados por Deus. René Voillaume nos diz: “o deserto é uma tentativa de avançar despido, fraco, desprovido de todo apoio humano, em jejum total de alimento terreno, mesmo espiritual, ao encontro com Deus”. É verdade, que não podemos ir longe se Deus não nos envia Ele mesmo o alimento, como fez Elias prostrado, esgotado e extenuado. O deserto é sempre uma respeitosa espera do alimento divino. É como um grito de socorro lançado a Deus.
ORAÇÃO SILENCIOSA
O elemento “silêncio” deveria ser sublinhado até o infinito. Silêncio dos sentidos, silêncio da mente, silêncio da afetividade. Instantes passeando, instantes sentados ou de joelhos, conforme lhe permitam o clima e o espaço. Sempre, porém, atento ao passo do Senhor, mergulhando na escuta dEle. Esse Senhor nos fala com a eloqüência penetrante do silêncio
ENSINAMENTO DO DESERTO
O deserto tem me conduzido a vivenciar a fé cristã com dom de si. Dom que se expressa não no ato imediato do serviço, no fato de dar-se aos outros, mas na gratuidade do puro oferecimento. Eu entro no deserto como quem vai ao encontro de Cristo na Cruz, para oferecer-me com Ele ao Pai pela salvação do mundo. O deserto se converte, assim, em lugar e escola de intercessão. Subjugado por um Jesus fraco e reduzido á importância, um Jesus que nos ensina que o que importa é amar e que a libertação dos homens não está em proporção direta á quantidade de nossas ações, mas á qualidade de nosso ser entregue incondicionalmente á vontade do Pai. Os dias do deserto vão aperfeiçoando essa atitude de fé pura e transparente de entrega radical mediante a qual nos sentimos instrumentos nas mãos de Deus para a transformação de nossa sociedade e valores do Reino.
A aridez dos dias de deserto, esse despojar-se, ou melhor, esse deixar-se e despojar e conduzir por Ele, nos prepara para vivermos atentos ao passo de Deus na nossa história e para dar razão de nossa esperança nos tempos de crise em que vivemos. E, assim, quando chegam aqueles outros desertos, que para todos chegam, ou seja, o fracasso, a doença, as situações sem saída, estamos preparados por Deus, trabalhados pelo Espírito para não derrubar-nos nas crises e reconhecer os próprios limites como maior fonte de fecundidade e eficácia que a fé faz brotar no seio da existência de quem crê.
Não poderia acabar esta reflexão que, embora pobre, me permite ter uma visão de conjunto sobre estes dias de graça vividos sob a luz do deserto, sem dizer, com a boca cheia: obrigado, Senhor, pelo dia mensal de deserto, sacramento do teu passo de amor silencioso por minha vida, e revelador dessa verdade tão consoladora, de que somente Deus salva”.
Em “Cadernos de Oração” – 1987
(Boletim Jesus Caritas da fraternidade Sacerdotal – nº88 ano 1982)
(Español) Boletín Fraternidad de Argentina – 2019
Boletim das Fraternidades, 159. Brasil
BOLETIM DA FRATERNIDADE SACERDOTAL JESUS CÁRITAS … 01
RESPONSÁVEIS … 02
SERVIÇOS … 04
SUMÁRIO … 05
DA REDAÇÃO
Apresentação … 06
ECOS DA ASSEMBLEIA DE CEBU
Carta do Responsável Internacional aos Irmãos do Mundo … 08
ESPIRITUALIDADE DO IRMÃO CARLOS
A Importância da Revisão de Vida … 18
Sete palavras para refletir sobre a Lição de gratuidade do Charles de Foucauld … 30
NOTÍCIAS
Votos Perpétuos dos Irmãozinhos Rafael e Norbert em Burquina Faso … 39
Do Encontro do Conselho Nacional … 42
15 compromissos do Pacto das Catacumbas pela CasaComum … 51
AGENDA 2019 e 2020
Retiro Anual em 2020 – Caucaia … 53
Outras datas … 54
LÍ, ASSISTI E INDICO
Indicação de Livros, Sites e Filmes … 55
FAMÍLIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD NO BRASIL … 56
Descarregue a boletim em PDF
(Français) Notre frére Michel PINCHON
(Español) Calendario pluricultural, diciembre 2019
(Español) Horeb Ekumene, diciembre 2019
Boletim das Fraternidades 158. Brasil
SUMÁRIO
BOLETIM DA FRATERNIDADE SACERDOTAL
- RESPONSAVEIS … 01
- SERVIÇOS … 03
- SUMARIO … 04
- APRESENTAÇÃO … 05
RETIRO ANUAL DA FRATERNIDADE
- Memoria: Recordando o retiro e a convivência … 07
- Ecos do retiro (a voz dos participantes) … 16
MÊS DE NAZARÉ
- Memoria: Recordando o mês de Nazaré … 17
- As origens e a história da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas no mundo e no Brasil … 26
- O ministério presbiteral: o perigo do ativismo e a solução de uma vida voltada à espiritualidade … 29
- Reflexões existenciais sobre o ministério presbiteral … 44
- Ecos do Mês de Nazare … 54
NOTÍCIAS
- Falecimentos Pe Martim e Pe Ernesto … 60
- Assembleia Internacional – CEBU – Filipinas … 63
- Prioridades de nossa fraternidade … 71
- Carta de Cebu ao Papa Francisco … 79
- AGENDA 2019 – 2020 … 80
LI, ASSISTI E INDICO
- Livros, sites, vídeos e filmes … 81
- Família Espiritual do irmão CARLOS DE FOUCAULD no Brasil … 83
Carta da equipe internacional, Assembléia Asiática, outubro 2019
FRATERNIDADES EM MISSÃO
“Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus. A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4, 31-32).
Irmãos bem amados,
Em solidariedade com os bispos reunidos para o Sínodo da Amazônia, nós, seus irmãos da equipe internacional – sem a presença do Tony, porque infelizmente ele não conseguiu o visto – estamos reunidos neste lugar bonito e calmo, chamado Casa de Retiros Sagrado Coração de Maria Mirinae, localizado num vale cercado por colinas com árvores coloridas no outono. Reunimo-nos com catorze irmãos de quatro países asiáticos em sua Assembleia Continental, de 11 a 18 de outubro de 2019.
A beleza do local nos fala profundamente sobre nosso desejo de paz e sossego para descansar nossos corpos cansados e sobrecarregados com o barulho e os peso do nosso ministério. Nossa adoração diária, a celebração eucarística, a partilha do Evangelho e o dia de deserto tornaram-se encontros calorosos com Jesus e com os irmãos. Durante a nossa estadia, apreciamos a culinária coreana e a hospitalidade da jovem e vibrante Comunidade das Irmãs do Sagrado Coração de Maria.
A Assembleia de Cebu confiou algumas preocupações e desafios às nossas fraternidades. Essas preocupações foram sentidas em três áreas de nossas vidas: nossas sociedades, nossas igrejas e nossas fraternidades. Conscientes destes desafios e das conclusões de nossas reflexões e discernimentos sobre a realidade de nossas fraternidades, gostaríamos de convidá-los a se tornarem promotores da Fraternidade. Acreditamos que a construção e a vivencia da fraternidade como um dom de Deus nos levará a viver a missão fraterna com nossos irmãos sacerdotes, em nossas igrejas e em nossas sociedades.
Gratidão e carinho por nossos irmãos mais velhos
“Plantados na casa do Senhor, crescerão nos átrios do nosso Deus. Mesmo na velhice darão frutos, serão cheios de seiva e verdejantes” (Sl 92, 13-14).
Contemplando a realidade de nossas fraternidades em Cebu, descobrimos que os membros das fraternidades ocidentais estavam diminuindo ou envelhecendo. Envelhecer é um processo de crescimento, um presente de Deus. Nossos irmãos mais velhos são, portanto, presentes preciosos em nossas fraternidades. Eles envelheceram em fraternidade com fidelidade, são veteranos em fraternidade. Gostaríamos de expressar nossa profunda gratidão por sua presença entre nós. Vocês são os canais pelos quais Jesus conduziu cada um de nós nas belas fraternidades Jesus Caritas.
Quando muitos de vocês, como padres fidei donum, viajaram pelo mundo proclamando a Boa Nova de Jesus, seguindo os passos do irmão Carlos, voces levaram as fraternidades de Jesus Caritas para as Américas, Ásia e África. Apesar do peso da idade, muitos de vocês fazem, ainda hoje, esforços extraordinários para poder participar, o máximo que puder, dos encontros da fraternidade. Sua fidelidade é um exemplo a ser imitado.
Queridos irmãos mais velhos, e mais experientes, nós valorizamos muito a presença de vocês entre nós. Queremos ouvi-los e aprender com sua sabedoria e experiência fraterna. Contamos também com suas orações fiéis para que possamos viver a fraternidade. À medida que suas forças vão diminuindo, nós nos unimos a vocês na oração do abandono, do irmão Carlos, pedindo para vocês a graça de uma entrega total ao amor de Deus.
Pedimos a todos para prestarem mais atenção aos nossos irmãos mais velhos: visitando-os, mantendo-os informados sobre a vida das fraternidades, celebrando seus aniversários de nascimento e ordenação sacerdotal, partilhando suas alegrias e tristezas, etc. Muitos de nós já estão fazendo isso muito bem, e nós os incentivamos a continuar com este serviço exemplar.
Enriquecido com o entusiasmo e a vitalidade dos irmãos jovens
“Que ninguém o despreze por ser jovem. Quanto a você mesmo, seja para os fiéis um modelo na palavra, na conduta, no amor, na fé, e na pureza ” (1Tm 4,12).
Em vários países, principalmente na Ásia e na África, nossas fraternidades estão recebendo novos membros. Jovens sacerdotes se juntam a nós, seguindo os passos do irmão Carlos. A entrada destes padres jovens enche nossos corações de felicidade e gratidão a Deus, pois nossas fraternidades se renovam com sua vitalidade e entusiasmo juvenil. Isto é um sinal muito claro de que a experiência espiritual do irmão Carlos ainda é muito significativa e fascinante.
A entrada de membros novos e jovens [na fraternidade] é uma grande graça, mas também um desafio. Antes de tudo, devemos acolhê-los com sinceridade e abrir nossos corações às suas aspirações mais profundas. Também somos convidados a fazer que nossas fraternidades sejam lugares onde eles possam encontrar o apoio fraterno dos irmãos mais velhos. Temos o delicado dever de cuidar deles e ajudá-los a viver esta transição, muitas vezes difícil, entre a vida protegida do Seminário Maior e os grandes desafios de seu início na vida sacerdotal. Eles precisam encontrar mentores amáveis e bondosos entre nós.
A chegada de novos membros em nossas fraternidades é um presente de Deus, mas nosso testemunho de vida e nosso desejo de ter novos irmãos é muito importante. No Brasil, nossos irmãos estão organizando várias atividades para permitir que seminaristas maiores descubram a beleza e a relevância da experiência espiritual do irmão Carlos. Tais experiências de partilha sobre o que estamos vivendo e convites para novos membros deveriam ser promovidas em nossas fraternidades.
Acreditamos que nossas fraternidades são um precioso presente de Deus e não podemos guardá-lo só para nós mesmos. Devemos partilhar esta convicção de que a Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas pode nos ajudar a ser bons padres diocesanos.
Nas igrejas onde os padres vêm de diferentes partes do mundo para prestar serviço pastoral ou para estudar, nossas fraternidades estão convidadas a mostrar-lhes uma especial hospitalidade. Entre eles, os padres pertencentes às fraternidades Jesus Caritas precisam ser integrados em nossas fraternidades. Não percamos esta oportunidade de viver uma fraternidade universal com nossos irmãos sacerdotes. Convidamos vocês, irmãos, a serem os primeiros a estender-lhes as mãos, indo ao encontro deles, para oferecer-lhes nosso amor fraterno.
“Jamais arrière”, “Nunca voltar atrás”, mas fidelidade e perseverança
“Conheço sua conduta: o amor, a fé, a dedicação, a perseverança e as suas obras mais recentes, ainda mais numerosas que as primeiras” (Ap 2,19).
A Assembleia de Cebu revelou que em muitas de nossas fraternidades há uma falta de fidelidade aos principais meios de nosso crescimento espiritual. Nunca é demais enfatizar suficientemente a importância e a necessidade da adoração eucarística diária, o dia mensal do deserto, a revisão da vida, as reuniões mensais da fraternidade e a partilha do Evangelho para o nosso crescimento espiritual. Gostaríamos de agradecer e felicitar todos os irmãos e fraternidades que estão vivendo fielmente esses importantes meios de crescimento espiritual. Queridos irmãos, encorajamos vocês a permanecerem firmes nesta fidelidade, que é uma bênção para todos nós.
Quanto a vocês, irmãos que estão lutando para serem fiéis a esses meios, nós os exortamos a nunca desistirem do pouco que estão conseguindo fazer. O lema da família do irmão Carlos era: “Jamais arrière”, “Nunca voltar atrás”. Ele disse que, quando saímos para fazer algo, nunca devemos voltar sem tê-lo feito. Com seu espírito e seu exemplo de determinação, um dia alcançaremos a fidelidade perfeita. Portanto, ninguém desista do que já está fazendo!
Devido às grandes distâncias, ao isolamento e à falta de recursos financeiros, muitos irmãos não podem participar regularmente dos encontros da fraternidade. É difícil aproveitar os meios de crescimento espiritual sem essa participação regular nos encontros fraternos, por isso, exortamos vocês, irmãos, a serem mais criativos nessa situação. Em lugares onde não é possível encontrar padres, viver a fraternidade com outros membros da família espiritual do irmão Carlos não é somente uma alternativa frutífera, mas também uma oportunidade valiosa.
A fraternidade nos impulsiona à missão
“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois, na sua frente, para toda cidade e lugar aonde Ele próprio devia ir” (Lc 10,1).
Como sacerdotes diocesanos missionários que seguem os passos de Carlos de Foucauld, uma especificidade de nossa missão é construir fraternidade, ser especialistas em amor fraterno e tornarmo-nos irmãos universais. Utilizar os meios espirituais disponíveis em nossas fraternidades Jesus Caritas, para promover nosso crescimento espiritual, também é uma característica do nosso ser missionário. Cuidar de nossa vida espiritual e crescer em santidade é, portanto, necessário para a fecundidade de nossos esforços missionários.
Depois de uma longa reflexão sobre a missão na Assembleia de Cebu, agora desejamos encorajá-los em seus respectivos compromissos missionários. Convidamos vocês a identificarem, durante os encontros de fraternidades e nas suas assembleias, as muitas atividades missionárias nas quais vocês já estão comprometidos. A partilha e a reflexão de suas experiências missionárias, a escuta das diversas experiências e histórias de missão certamente vos enriquecerão e vos ajudarão a reacender seu entusiasmo missionário.
Gratidão
Agradecemos ao Philip e aos irmãos coreanos pela calorosa hospitalidade, a Arthur Charles pelo serviço prestado aos irmãos asiáticos nos últimos seis anos e à comunidade das irmãs pela alegria contagiante em cuidar de nós. Também agradecemos aos irmãozinhos e irmãzinhas, e aos membros da fraternidade leiga pela visita e pelos presentes que prepararam para nós.
Casa de Retiro Sagrado Coração de Maria Merinae, sexta-feira, 18 de outubro de 2019.
Eric LOSADA, Fernando TAPIA MIRANDA, Matthias KEIL e Honoré SAVADOGO
Seus irmãos da equipe internacional
Traduzido para o português-BR por Pe. Carlos Roberto dos Santos
13 novembro, beatificação de Charles de FOUCAULD. José Inácio do VALE
Escrita de forma esplêndida a biografia do bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), por Pierre Sourisseau, arquivista da causa da canonização por mais de trinta anos, é uma obra magistral. O estudo da correspondência e da bibliografia dá acesso à busca do irmão Charles pela chamada de Jesus por fidelidade à Igreja, inovando, por exemplo, uma figura de “sacerdote livre”, ligada às circunstâncias e para os lugares cruzados. A imitação de um modelo, exposto a um rigor excessivo, dissuasivo e, no entanto, tão desejado por muitos companheiros, rapidamente detectado por seu pai espiritual, o sábio padre Henri Huvelin, abre caminho para uma identificação mais convincente com Nosso Senhor Jesus Cristo. Além das representações que poderiam impedi-lo, o martírio esperado selou a união total com a pessoa de Cristo. A rota é confusa. São preenchidas lacunas nas informações, desde as árvores genealógicas da família até os detalhes do assassinato final, através dos anos de juventude e maturidade, através do exame minucioso de fontes acessíveis. A serenidade do trabalho, despida de qualquer controvérsia fora do lugar, faz desta biografia um excelente livro de história e espiritualidade. No final de cada etapa, os “retratos” facilitam a entrada gradual do leitor neste sempre presente testemunho de fé, esperança e amor. Tudo se resume em “Jesus Cáritas”.
Pierre Sourisseau, é um dos melhores conhecedores do homem que foi oficial do exército francês, explorador em Marrocos, agnóstico, monge trapista, padre, missionário e eremita no deserto do Saara. Sourisseau arquivista da sua causa de beatificação, tem 35 anos ativos de trabalhos de pesquisa, de artigos e de conferências sobre Foucauld.
Para enriquecer o livro, o prefácio do padre Bernard Ardura, postulador da causa de canonização do Beato Charles de Foucauld, cujo espírito – como observa Pierre Sourisseau na conclusão da biografia – depois de sua morte, “rapidamente tornou-se um bem comum da Igreja” e “o seu carisma se manifesta sob muitas formas nos compromissos de homens e mulheres” do nosso tempo. O padre francês Bernard Ardura é presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.
Pierre Sourisseau, nasceu em 1939 em Saint-Paul-en-Pareds, uma comunidade nas proximidades de Croix-Bara. Exceto pelo período em que esteve no exército, Sourisseau viveu na região de Vendée, trabalhando até seu retiro em 1999 como pedreiro. Aos vinte anos, em 1959, ele foi recrutado no exército por 28 meses. Ele foi enviado para a Argélia, onde a guerra franco-argelina (1954-1962) ocorreu. Nos anos posteriores, ele costumava dizer que estava feliz por nunca ter matado ninguém. No entanto, este período o impressionou muito, o que é expresso em seu trabalho artístico. Já jovem, Sourisseau tinha o desejo de fazer arte visual e, em 1975, como artista autodidata, começou a fazer pinturas e esculturas, uma atividade que continuaria pelo resto da vida, resultando em um grande número de criações.
No dia 1º de dezembro de 1916, morria Charles de Foucauld, assassinado aos 58 anos de idade por um grupo armado da tribo dos Senussi, que tinha cercado o seu eremitério de Tamanrasset no Saara argelino. Se a notícia da sua morte não teve uma grande repercussão na Europa dilacerada pela Primeira Guerra Mundial, o religioso passaria aos olhos da história como um dos mais importantes da sua geração, na virada de dois séculos.
A primeira biografia escrita pelo renomado escritor francês René Bazin em 1923 consagrou a sua posteridade espiritual, tornando conhecida na França e, depois, no mundo a sua personalidade fora do comum e a sua obra prolífica, que suscitaram tantas vocações.
Beatificação
Em 13 de novembro de 2005, Charles de Foucauld foi beatificado na Basílica de São Pedro, em Roma. Ele agora é homenageado com o título de “Bem-aventurado”.
Aqui está um trecho de magnífica expressão teológica do Papa Bento XVI na beatificação do Irmão Universal:
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
“Vamos dar graças ao testemunho dado por Charles de Foucauld. Em sua vida contemplativa e escondida em Nazaré, ele descobriu a verdade sobre a humanidade de Jesus e convida-nos a contemplar o mistério da Encarnação; neste lugar, ele aprendeu muito sobre o Senhor, a quem ele queria seguir com humildade e pobreza. Ele descobriu que Jesus, que veio para se juntar a nós na nossa humanidade, nos convida a fraternidade universal, que ele posteriormente viveu no deserto do Saara, e ao amor, do qual Cristo nos deu o exemplo. Como sacerdote, ele colocou a Eucaristia e o Evangelho no coração de sua vida, as duas mesas da Palavra e do Pão, fonte da vida cristã e da missão”.
Meditar abissalmente
Quando Charles de Foucauld elabora os estatutos de sua congregação, da qual há anos trazia o projeto no coração, ele resume em poucas e belas palavras um ideal missionário, que parte de uma convicção: “todo batizado é convidado a viver como Jesus”. “Em todas as coisas, perguntarmo-nos o que Jesus faria no nosso lugar, e fazê-lo”. Daí de forma evangelical afirma: “gritar o Evangelho sobre os telhados com toda a nossa vida”.
Pelo menos duas dezenas de institutos e fraternidades de religiosos, padres e leigos, criados, na maior parte dos casos, após a sua morte e interpretando, cada qual segundo a sua sensibilidade, o legado de Charles de Foucauld, continuam a manter viva a espiritualidade daquele que o célebre teólogo dominicano francês Yves Congar um dia chamou de “farol místico” para o século XX, junto com Santa Teresinha do Menino Jesus.
Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas-Bem-aventurado Charles de Foucauld
Fontes: