Papa Francisco reconhece milagre atribuído à intercessão do Beato Charles de FOUCAULD. José Inácio do VALE

Em 26 de maio de 2020, o Papa Francisco recebeu em audiência o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, ocasião em que autorizou a mesma Congregação a promulgar o Decreto relativo: “Ao milagre atribuído à intercessão do Beato Charles de Foucauld; sacerdote diocesano francês” (1).

A vida do Bem-aventurado Charles de Foucauld cativaram e atraíram gerações após gerações e continua de forma incrível atraindo maior número de discípulos no mundo inteiro! De tal maneira que aquilo que não obteve em vida se realizou após o seu nascimento para o Céu. Ao longo dos anos, mais de vinte famílias de leigos, sacerdotes, religiosos e religiosas brotaram da sua espiritualidade e da sua maneira de viver o Evangelho (entre as maiores, as Fraternidades dos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus). “Um homem que deu um testemunho que fez bem à Igreja”, afirmou o Papa Francisco na missa a que presidiu a 1 de dezembro de 2016, centenário da morte. E o Papa Bento XVI, no momento da beatificação, a 13 de novembro de 2005, declarou que a sua vida é “um convite a aspirar à fraternidade universal”.

O maior marco de sua vida foi a profunda experiência de conversão, que o transformou num dos maiores buscadores de Deus. Ele, grande explorador inclusive do ponto de vista geográfico, dedicou na prática o resto dos seus anos a explorar o imenso território da relação entre o Absoluto e as criaturas. Disse: “Logo que descobri que existe Deus entendi que não podia mais fazer outra coisa a não ser viver por ele: minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé”.

A jornada

Nascido em Estrasburgo (França), no dia 15 de setembro de 1858 de uma família nobre, e ele próprio detentor do título de visconde de Pontbriand, passa a primeira infância em Wissembourg, mas perde os pais aos seis anos, passando a ser educado pelo avô materno, o coronel Beaudet de Morlet, que lhe deixa uma grande herança. O jovem Charles de Foucauld em 1876 entra na Escola Militar de Saint Cyr e torna-se oficial. Deixa o exército para se dedicar a expedições geográficas em Marrocos, e dedica-se a estudar árabe e hebraico. Distingue-se como explorador, de tal maneira que em 1885 recebe a medalha de ouro da Sociedade Francesa de Geografia. Em 1890 entra no Mosteiro Trapista, na França, mas depressa pede para retirar-se para uma trapa muito mais pobre, na Síria. Remonta a este período um primeiro projeto de congregação religiosa.

Com 32 anos, Charles de Foucauld sente a necessidade de ser dispensado dos votos, e alguns anos depois o pedido é deferido. Em 1897, a abade-geral dos Trapistas deixa-o livre para seguir a sua vocação. Fica durante algum tempo na Terra Santa. Regressado a França, é ordenado padre em 1901. No mesmo ano transfere-se para África, e estabelece-se num oásis do deserto do Saara profundo. Reveste uma túnica branca, na qual coze um coração de tecido vermelho, sobreposto por uma cruz. Hospeda todos aqueles que passam por ele, cristãos, muçulmanos, judeus, pagãos, e durante 13 anos vive na vila tuaregue de Tamanrasset. Reza onze horas por dia, mergulha no mistério da Eucaristia, redige um grande dicionário de francês-tuaregue, ainda hoje usado naquela região. Sua missão é ajudar a todos.

Em 1909, fundou a União de Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração com a missão de evangelizar as colônias francesas na África. Os povos berberes, maioria no noroeste da África, reconheceram que a missão de Charles de Foucauld gerava sentimentos amigáveis ​​em relação aos franceses.
Charles de Foucauld foi assassinado por assaltantes de passagem, na porta de seu eremitério, em 1 de dezembro de 1916, em Tamanrasset, Argélia francesa, estava com 58 anos de idade. Logo foi considerado um mártir e, nos anos seguintes, sua memória passou a ser venerada. Ao mesmo tempo, sua biografia do famoso escritor francês René Bazin (1853-1932), publicada em 1921, tornou-se um best-seller.

Destaco aqui três práticas na vida de Foucauld que são modelos para os verdadeiros seguidores de Jesus de Nazaré

Missão

“Minha missão deve ser o apostolado da bondade. A meu ver, deverão dizer ‘Já que este homem é tão bom, também sua religião deve ser boa’. Se alguém me perguntar por que eu sou manso e bom, deverei responder: ‘Porque eu sou servidor de um outro que é muito melhor do que eu. Se soubesse como é bom o meu Mestre Jesus!’. Quero ser tão bom que possam dizer de mim: ‘Se o servidor é assim, como não será o Mestre!'”

O último lugar

“Não quero passar minha vida em primeira classe, enquanto Aquele que me ama a passou na última”.
Tenho para mim procurar o último dos últimos lugares, para ser tão pequeno como o meu Mestre, para estar com Ele, para caminhar atrás dEle, passo a passo, como servo leal, discípulo fiel, porque na sua bondade infinita e incompreensível Ele me permite falar assim, em irmão leal, em esposo fiel. Por isso a minha vida deve ser concebida de modo a ser o último, o mais desprezado dos homens, a fim de passá-la com o meu Mestre, o meu Senhor, o meu Irmão, o meu Esposo, que foi ‘desprezo do povo e opróbrio da terra, um verme e não um homem’. Viver pobre, desprezado, no sofrimento, na solidão, esquecido, para estar na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, Ele que assim viveu toda a sua vida, dando-me este exemplo desde o seu nascimento.

Seguir Jesus

Seguir Jesus é imitar Jesus em tudo, partilhar a sua vida como o faziam a Santíssima Virgem, São José, os apóstolos, isto é, por um lado, conformar como eles a nossa alma à dEle, convertendo o mais possível a nossa alma à sua alma infinitamente perfeita; por outro lado, conformar como eles a nossa vida exterior à dEle, partilhando como eles fizeram, a sua pobreza, a sua humilhação, os seus trabalhos, os seus cansaços, enfim tudo o que foi a parte visível de sua vida… Na dúvida de fazer ou não alguma coisa, perguntar-se o que teria feito Jesus em nosso lugar e fazê-lo. Não imitar tal ou tal santo, mais só a Jesus.

Disse o erudito Bento XVI que “nós podemos resumir a nossa fé nas seguintes palavras: Jesus Caridade, Jesus Amor” (Angelus, 25 de Setembro de 2005), que são as mesmas palavras que Charles de Foucauld escolheu como mote para exprimir a sua espiritualidade.

Para Charles de Foucauld imitar Jesus de Nazaré só na abissalidade do amor e da caridade!

A experiência profunda de Charles de Foucauld como monge, padre, missionário e eremita é de um rio de água cristalina que tem em sua correnteza um único fim: “O Paraíso com Deus”.

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de Psicologia e Cultura Religiosa no
Centro Educacional Católico Reis Magos
Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas-Charles de Foucauld

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