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A missionaridade do presbítero diocesano. Mauricio da SILVA JARDIM
XI Assembleia Geral, Cebul, Filipinas – 15 a 30 de janeiro 2019.
A missionariedade do presbítero diocesano – Fundamentação
OBSERVAÇÕES INICIAIS:
É determinante ter claro os fundamentos da missão. Uma palavra hoje muito usada. Chega-se dizer que tudo é missão.
Toda obra, antes de ser construída, necessita de planejamento. A construção começa pelos alicerces e fundamentos que garantem a sustentação do prédio. Na missão, não é diferente. Precisamos deixar claro os fundamentos da única missão que é de Deus.
A concepção de missão está muitas vezes reduzida a fazer coisas, elaborar esquemas, projetos, cursos, visitas, experiências, simpósios e congressos. Isto define-se como missão programática.
A missão ao longo da história foi delegada a congregações e grupos com carisma missionário. Foi perdendo-se a noção de missão como identidade, essência, natureza de todo povo de Deus. Alguns ainda tem a concepção, de que missionários (as) são somente aqueles que partem para outra nação.
CONCEITO DE MISSÃO:
Na sua origem, a palavra “missão” significa “envio”, “partir”, “sair”.
O termo latino, missio quer dizer também “libertar”, “deixar andar”, “soltar”: o envio “tem tudo a ver” com liberdade e libertação.
O Concílio Vaticano II recuperou a concepção teológica sobre a natureza da missão.
MISSIO DEI:
Essa visão se fundamenta, no conceito de missão que tem sua origem no “amor fontal” do Pai, um amor que sai de si por sua própria natureza para chegar a todos (AG,2).
A Missão, portanto, é uma só. Ela é de Deus, nasce no coração da Trindade. Deus é missão. O amor de Deus é um amor que não se contém, que transborda, que se comunica, expande, dilata, irradia, difunde e sai de si.
O próprio Deus se auto envia pela missão do Filho e do Espírito. O Filho é enviado pelo Pai na força do Espírito Santo.
Impulso de dentro para fora:
A origem de todo movimento missionário está no coração da Trindade. O amor de Deus Pai não se contém e se comunica. Deus é missão e a missão vem de Deus porque Deus é amor. Missão diz respeito ao que Deus é e não, primeiramente, ao que Deus faz. A missão revela a essência de Deus de se comunicar e de criar relação. Por isso, a missão não teria, a princípio, um seu porquê, não surgiria primeiramente de uma necessidade histórica, mas é um impulso gratuito, de dentro para fora, e de um jeito de ser que têm como origem e fim a vida divina (cf. DAp 348).
A SAÍDA DE DEUS:
Deus é o primeiro a sair de si mesmo para libertar, salvar, curar…
“Ele viu a opressão do povo no Egito, escutou seus clamores e sofrimentos e desceu para libertá-los das mãos dos Egípcios e levá-los para uma terra boa e vasta, onde emanam leite e mel (Ex 3, 7-8).
CONCEPÇÃO ECLESIOLÓGICA E MISSILÓGICA
“A Igreja não possui uma missão, mas a missão possui a Igreja” (Diálogos proféticos, Stephen Bevans e Roger Schroeder, p.34).
Missão é a própria essência de Deus que tem uma Igreja vocacionada a ser testemunha de Cristo no mundo e na história, até os confins da terra e o final dos tempos. “A ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja” (EG 15).
Como a missão nasce em nós?
ENCONTRO
A missão começa com a escuta da voz de Deus. “Ouvir o que diz o Espírito as Igrejas”.
Encontro com Jesus Cristo. É um encontro que dá novo horizonte à vida.
É um encontro apaixonante que se expande. O documento de Aparecida fala de dez lugares de encontro (246-258).
“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp, 29).
Missão a partir de Jesus Cristo
Cristo, luz para os povos (LG,1).
O momento atual é oportuno de propor uma direção, referência, um sentido para vida das pessoas que é Jesus Cristo. Há uma crise de sentido. A fé Nele tem implicações práticas, ou seja, irradiar fé, bondade, misericórdia, compreensão.
A evangelização não é feita somente por palavras, sobretudo pelo testemunho de vida. Ir. Carlos é um modelo de missão testemunhal. Missão pela simples presença, gratuidade e bondade.
PAIXÃO
“Missão é paixão por Jesus Cristo e simultaneamente paixão pelo seu povo” (Evangelii Gaudium, 268).
Sem esta paixão a missão fica reduzida a fazer muitas coisas, andando de um lado para o outro, sem mística e sem ardor. Missão é pois, questão de paixão e identidade cristã.
Qual objetivo da ação missionária?
Transmitir a fé está no coração da missão da Igreja. “A Igreja existe para evangelizar”.
A Igreja é continuadora da missão de Jesus.
Proclamar e anunciar a boa notícia de Deus.
A Igreja deve estar a serviço da implantação do Reino de Deus. Ela não é fim, é meio, instrumento, sinal de salvação.
Salvar, curar, libertar…
Na missão, a salvação está em primeiro lugar, o jurídico, institucional e doutrinal devem estar a serviço da salvação.
Assumir o jeito de viver de Jesus Cristo. “Jesus Cristo, passou por este mundo fazendo o bem (At10,38). A vida e o testemunho são mais importantes do que a teoria.
Para missionar é fundamental experimentar a ação de Deus em nós.
A missão se propaga por contágio pessoal. “A fé cresce por atração” (Bento XVI).
MENOS E MAIS.
“ Zero burocracia e menos administração. Mais paixão, mais amor e mais anúncio do Evangelho” (Papa Francisco, reunião dos diretores das POM em Roma, junho de 2017).
Jesus convocou o grupo dos doze para que primeiro permanecesse com Ele e depois os enviou a pregar (Cfe. Mc 3,14). A primeira tarefa do missionário (a) é permanecer com Ele para deixar-se conformar pela Sua identidade. Deste encontro, nasce a missão que não tem fronteiras.
ESPÍRITO SANTO É O PROTAGONISTA
Missão é pois, uma questão de fé, de abandono a Deus. Por isso, a primeira obra é rezar pelas missões. O protagonista é o Espírito Santo. Somos Cooperadores (as) da missão de Deus.
COOPERAÇÃO MISSIONÁRIA
Se na missão toda iniciativa é Deus. Qual a nossa parte?
Deus quis precisar de nós para a missão que é Dele. Necessita de nossa colaboração, de nosso sim, de nossos pés, mãos, olhos, ouvidos, de nossa proximidade com Seus filhos (as).
Está continuamente chamando colaboradores (as).
Eu sou uma missão…
O papa Francisco tem falado da dimensão existencial da missão: “Eu sou uma missão de Deus nesta terra, e para isso estou neste mundo” (Evangelli Gaudium, 273). A vida se torna uma missão. Ser missionário (a) está além de cumprir tarefas ou fazer muitas coisas. Está na ordem do ser. É existencial, identidade, essência e não se reduz a algumas horas do dia. Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate o papa chega afirmar: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão” (27). A missão nos tem.
O movimento da saída: a proximidade
Qual motivo teríamos para sairmos de nós mesmos, de nossa comunidade, de nossa terra, se não tivéssemos algo que nos impele a fazer isso?
1. Poderíamos sair atraídos pelo encanto com o desconhecido ou pela curiosidade de visitar outros lugares, encontrar outras pessoas e culturas diferentes: então, faríamos turismo, ou algo parecido, como intercâmbio, negócios, pesquisas, etc.
2. Poderíamos sair com o desejo de conquista, querendo expandir nossa organização, nosso mundo, explorando o mundo dos outros segundo a nossa visão e as nossas necessidades: então, isso seria colonização.
3. Poderíamos sair para fugir de nossa realidade e de nós mesmos, buscando inspiração ou uma realização pessoal em outros lugares: se tirarmos o caso dos migrantes e dos refugiados que fogem para sobreviver, poderíamos dizer que essa saída teria ainda como razão de fundo um desejo pessoal.
IGREJA EM SAÍDA
No caso da Igreja, a motivação de seu sair não está em si mesma. Ao contrário, trata-se de um “movimento de saída de si mesma” (EG, 97). “O discípulo-missionário é um descentrado – diz Papa Francisco – o seu centro é Jesus Cristo, que convoca e envia”. Aqui está o permanente discernimento e a atitude penitencial da “Igreja em saída”, pois ela, ao sair, poderia estar colocando ao centro a si mesma. “Quando a Igreja se erige em ‘centro’, se funcionaliza, torna-se cada vez mais auto referencial e enfraquece a sua necessidade de ser missionária”. ( Discurso do papa Francisco JMJ, 28 de julho de 2013).
Portanto, o motivo do sair da Igreja é exclusivamente Jesus que envia e Jesus que é a razão do enviar. Com efeito, a missão é um mandato: somos enviados não porque queremos, mas porque somos desafiados por Alguém a tomar iniciativa (cf. EG 24). Em segundo lugar, somos enviados porque o Evangelho, por ser uma “Boa Notícia”, tem em si um conteúdo avassalador em seu dinamismo de “saída” (cf. EG 20).
Portanto, a Igreja é chamada a estar “em saída” como o seu Senhor que “sabe ir à frente, sabe tomar iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos” (EG, 24).
Este é o tempo para a Igreja reencontrar o sentido de sua missão, libertar-se das amarras que a impedem de “sair”, de ser uma Igreja em saída.
É com este objetivo que o Papa Francisco convoca a Igreja a “sair”, assumir a dinâmica do “êxodo”.
EM MOVIMENTO DE SAÍDA
A Igreja não é feita para ficar apenas constituída em suas instituições, em seus assentos e em suas estruturas: ela existe para estar em movimento e se lançar ao mundo.
Essa é sua natureza:
sua razão de ser está em “sair”.
O QUE NOS IMPEDE DE SAIR?
Duas realidades paralisam a Igreja na sua missionariedade:
→a tentação de ficar no “centro”.
→ a preocupação com “querer ser o centro”. Tentação da auto-referencialidade.
“Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede…(Evangelii Gaudium, 20).
Discernimento para sair
O horizonte existencial da Igreja em saída são as periferias. O horizonte escatológico é o Reino de Deus. Iluminados pela alegria do Evangelho, cada comunidade deverá discernir quais periferias geográficas e existenciais precisam de uma atenção especial e da luz do Evangelho.
Essa saída, porém, não pode esquecer
da missão ad gentes, além-fronteiras.
Sair de que maneira?
A saída da qual fala o documento Evangelii Gaudium, é uma saída profunda, que toca as dimensões mais íntimas da vida dos discípulos missionários e da Igreja. Não é sair simplesmente para impor a nossa vontade e a nossa visão de mundo, querendo “organizar” o mundo dos outros.
Isso não é missão, é colonização.
A saída exige permanecer…
Para sair é preciso permanecer ligado Àquele que nos envia. Ao essencial, a Jesus e seu Evangelho. A saída é uma viagem para fora e para dentro de nós mesmos. Ao sair também encontramos Deus na carne sofredora de Cristo.
Somos uma Igreja em saída e somos uma Igreja que volta da missão para testemunhar a alegria do Evangelho.
O movimento de entrada: o encontro
O processo de saída implica um processo de entrada:
Entramos na casa do outro como hóspedes para encontrar. Este movimento demanda Kenósis, despojamento.
Entrar como hóspede é assumir a condição de peregrino e de estrangeiro que nos proporciona o dom inestimável do outro, sua experiência.
Exige espírito de adaptação, capacidade de comunicação, disciplina na inserção, paciência na travessia, generosidade na entrega, grande sensibilidade e paixão pelo povo que nos acolhe.
ÂMBITOS DA MISSÃO
A Igreja existe para cooperar com a missão de Deus (cf. 1Cor 3,9; EG 12).
a. Pastoral – comunidades (em casa).
b. Nova Evangelização – sociedade (fora de casa).
c. Missão ad gentes – sem fronteiras (na casa do outro). Horizonte maior para entender os outros âmbitos que são interconexos e interligados.
Missão Ad Gentes
“A transmissão da fé, coração da missão da Igreja, realiza-se pelo “contágio” do amor, em que a alegria e o entusiasmo expressam o descobrimento do sentido e da plenitude da vida. A propagação da fé por atração requer corações abertos, expandidos pelo amor. Não se pode colocar limites ao amor: forte como a morte é o amor (cf. Ct 8, 6). E tal expansão gera o encontro, o testemunho, o anúncio; gera a partilha na caridade com todos aqueles que estão longe da fé e se mostram indiferentes, às vezes contrários a ela”… Ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e a presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os “últimos confins da terra”, para onde, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na certeza de terem sempre o seu Senhor com eles (cf. Mt 28, 20; At 1, 8). Isso é o que chamamos de missio ad gentes” (Discurso do Papa Francisco no Dia Mundial da Missões, 2018).
O que é Missão Ad Gentes?
Entre aqueles que não conhecem Jesus Cristo no meio de outros povos e sociedades. Missão na casa do outro. A cooperação missionária diz respeito à missão ad gentes, a todos os povos.
A participação de cada Igreja local na missão universal, com os outros povos e com as outras igrejas.
Além do aspecto territorial e geográfico, se reflete hoje, o novo ambiente cultural indiferente ao Evangelho.
Missão Ad Gentes – desvios.
A missio ad gentes foi e é marcada pela mentalidade colonial, ou seja, há um certo complexo de superioridade em relação a outros povos, culturas, tradições, estilos de vida. O outro compreendido como destinatário e não como sujeito. É uma mentalidade marcada de fazer missão para e não com os outros. Alguns verbos que traduzem este movimento colonizador é ensinar, conquistar, levar, implantar, construir. Nesta mentalidade se desconsidera o trabalho realizado por outras pessoas que chegaram antes de nós. A missão evangelizadora não tem início com minha chegada.
Este modo de pensar a missão, não difere dos projetos coloniais que desprezaram as culturas locais para implantar uma nova mentalidade. A resistência a missio ad gentes que muitos agentes pastorais têm, passa pela compreensão da missão na perspectiva colonizadora. Ainda hoje, os missionários (as) chegam com o Kit pronto, vinculando a missão ao conceito de desenvolvimento, progresso e transplante da Igreja em outra cultura. Se fala mais do que se escuta não valorizando o outro como interlocutor. Cremos ou não no protagonismo do Espírito Santo que nos antecipa na missão?
Charles de Foucauld
É fundamental não abandonarmos o critério missionário da encarnação num mundo cada vez mais plural. Na mentalidade colonizadora se despreza as línguas locais, as tradições e os planos pastorais das Igrejas locais.
Na fraternidade temos o exemplo do beato Charles de Foucauld que soube respeitar e aprender a língua e tradições locais, exercendo o ministério da bondade e da simples presença gratuita.
Pe. Maurício da Silva Jardim
Brasil
PDF: A missionaridade do presbítero diocesano. Mauricio da SILVA JARDIM
(Español) Sacerdotes diocesanos misioneros a la luz del Bienaventurado Hermano Carlos de Foucauld, Jean-François BERJONNEAU, asamblea de Cebu
(English) The Crowning Truth. Matthew Ne Win Mookapaw, Fraternity of Myanmar
(Español) Una Iglesia que sale al encuentro, Manuel POZO
Relatório de gestâo, irmâo responsável, janeiro 2019
Com alegria vos apresento este RELATÓRIO DE GESTÃO como irmão responsável de nossa fraternidade, apoiado pelos irmãos da equipe internacional, e recolhendo o que foi vivido neste período entre o 12 de novembro de 2012 e o início de nossa XI Assembleia Mundial o 15 de janeiro de 2019.
Clique no ícone seguinte para abrir o documento:
(Español) Orientaciones para el Mes de Nazaret (para su aprobación en la asamblea mundial de Cebu)
(Español) Vivir con alegría la grandeza de ser pequeño. Antonio SICILIA VELASCO, fraternidad de Murcia
WEND BE NE DO, Burkina Faso: Informe de Dezembro de 2018
Relatório da visita seguimento do projeto WEND BE NE DO (WBND) em Burkina Faso, dos cooperantes Carlos LLANO, Alberto HERNANDIS, Andrés Pedro MUÑOZ e Aurelio SANZ, da Fundación Tienda Asilo de San Pedro de Cartagena (FTASP), Espanha, em dezembro de 2018.
WBND tem já uma trajetória de treze anos em Burkina Faso, sendo um referente como projeto de atenção a pessoas afetadas pelo VIH-sida nesta zona africana castigada pela pobreza, a corrução, a inseguridade… 271 adultos e 341 crianças, adolescentes e jovens são nossa preocupação para mais de sessenta voluntários em Espanha, sete em Burkina Faso e a equipe local formada por cinco pessoas. “Estar com”, acompanhar, pôr-nos em sua pele, não permanecer insensíveis ante o sofrimento alheio, participar de sua alegria: isso é WBND.
Charles de Foucauld e o eremitismo. Inácio José do VALE
“Aprecio cada vez mais os encantos da solidão e estou tentando descobrir como entrar em uma solidão cada vez mais profunda”.
Charles de Foucauld
O eremita francês, bem-aventurado Charles de Foucauld permanece como um sinal de contradição. Estudiosos colocaram Foucauld entre os “santos” cuja visão religiosa cresceu com uma sabedoria e conhecimento íntimo de uma fé diferente. A prática literal das virtudes morais de Foucauld, em última análise, colocou-o entre os pobres e oprimidos como solitário peregrino. Sua vida enigmática deixa um legado de abissal heroísmo. Motiva uma fé radical a Cristo, no Evangelho, nas missões, no amor aos mais distantes e abandonados. É de suma importância ressaltar seu exemplo eremítico que comove de forma imensurável o abandono total ao Senhor bom Deus e também instiga a vocação especial para vida eremítica.
Disse Charles de Foucauld: “Eu amo o deserto, a solidão; é tão quieto e tão saudável; as coisas eternas parecem muito reais e a verdade invade a alma. Estou muito relutante em deixar a minha solidão e silêncio…”
Legado do eremita
Dentro de seu contexto de vida religiosa e de suas intuições de fundar congregações e fraternidades, Foucauld foi reabilitado em parte proporcionar pela sua conversão, integridade pessoal e a transformação do trabalho missionário em “testemunho impactante”. Desde a sua morte, o legado de Foucauld refletiu-se no surgimento de sacerdotes operários, no movimento dos Trabalhadores Católicos, do protagonismo dos leigos e, especificamente, no desenvolvimento das fraternidades que ele inspirou – Irmãozinhos de Jesus e Irmãzinhas de Jesus. A vida e a espiritualidade de Foucauld foram assim de renovação para a Igreja dos tempos modernos.
Os discípulos de Foucauld são hoje pequenas fraternidades de irmãos e irmãs no mundo inteiro. Eles vivem com os pobres, como pobres, no mesmo tipo de trabalho que seus colegas, não revelando suas próprias habilidades, educação, gostos culturais ou conhecimento profissional. Eles deliberadamente não têm nem desejos nem recursos, nem ideologia intervencionista para fazer o contrário, e reconhecem abertamente seus escassos frutos terrestres. Sua intenção é configurar a vida de Jesus em Nazaré: a “vida oculta” da autoanulação em um pequeno ambiente “familiar”. Ausente é a atmosfera do nacionalismo, a função civilizadora, do testemunho como ferramentas de conversão, os elementos culturais evangelizador que Foucauld deixou. As pequenas fraternidades estão inseridas no mundo como fermento na massa.
A grande lição que emerge da vida solitária e silenciosa de Charles de Foucauld é sua humildade, sua gentileza e sua bondade. A humildade, a caridade, a renúncia aos prazeres e as boas coisas deste mundo e a devoção ao serviço dos pobres e infelizes são virtudes que sempre impressionaram aqueles que conheceram o apostolado desse eremita.
Escreveu Charles de Foucauld: “Abraçar a humildade, a pobreza, a renúncia, a abjeção, a solidão, o sofrimento, como Jesus na manjedoura. Não se importar com a grandeza humana, ou ascensão no mundo, ou a estima dos homens, mas para estimar os muito pobres tanto quanto os muito ricos. Para mim, buscar sempre o último dos últimos lugares, ordenar a minha vida de modo a ser o último, o mais desprezado dos homens”.
Foucauld amplia o eremitismo com sua consciência de seus conhecidos, por seu ativismo em trabalhar lado a lado com eles, mas permanecendo exteriormente silencioso e interiormente solitário. De qualquer ponto de vista mundano, tanto Foucauld quanto suas fraternidades prontamente admitem seu “fracasso” e preferem seu testemunho, sua incubação em um nível social e moral. “Sucesso” não é o objetivo dos eremitas. O sucesso vem com comunicação, convívio, cooperação, não solidão, silêncio e autoanulação. Mas a vida eremítica dá testemunho de uma verdade mais profunda sobre mudança social, cultural, afetiva e psicológica, sem falar da mudança espiritual.
Charles de Foucauld é uma figura histórica complexa dentro do catolicismo, e da história do eremitismo, ou seja, ele é singularmente moderno e sua vida tem um esforço inconsciente para alcançar um eremitismo ecumênico, um eremitismo universal. O eremita comunga o amor para com todos, ele vive a mística intercessória pela humanidade.
O eremita do mundo peregrino, o eremita da cidade, da aldeia, da periferia ou da cela não podem e não esperam sucesso mundano ou mesmo pessoal. Esse não é o objetivo do eremita. Somente uma consciência do silêncio, do deserto, no eu e nos outros pode ser esperança de vida. A esse respeito, Charles de Foucauld se aproxima desse modelo único de eremitismo. A busca ardente do Absoluto se embriaga na acesse eremítica, na profundidade contemplativa e numa vida de fé que contagia e motiva a nossa vida para Deus.
Meditando
A vida do eremita Charles de Foucauld foi toda centrada em Deus e foi animada pela eucaristia, adoração, vigília, deserto, oração, caridade e serviço humilde, que ele esperava mostrar Jesus Cristo pelo testemunho. Aqueles que são inspirados por seu exemplo, procuram viver sua fé com humildade, com profunda convicção do Evangelho e no amor da Espiritualidade de Nazaré.
Frei Inácio José do Vale
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas
Fraternidade do Bem-aventurado Charles de Foucauld