O pequeno como força para grandes entregas

São onze anos que venho praticando com freqüência o dia mensal de deserto. E, ainda que seja difícil apontar os frutos que esta experiência tem amadurecido em mim (o essencial do trabalho do Espírito é invisível aos nossos olhos), posso afirmar, com muita modéstia, que esta prática me fez mergulhar no silêncio interior, base da vida contemplativa.

Em meus dias de deserto, tenho conhecido as horas de alegria e a aridez, os encontros lúcidos e serenos com o Senhor e as longas e aborrecidas esperas que parecem conduzir a nada.

O dia do deserto se revela sempre com um lance na aventura do coração crente em busca do seu Senhor. Porém, no conjunto desses anos transcorridos, mantendo com assiduidade a prática do deserto, posso ver agora, com certa perspectiva, que os dias cinzentos não estavam, de modo algum, mais longe do Senhor do que aqueles outros que nos pareciam luminosos e esplêndidos; o essencial, do dia do deserto, é esse desprendimento total, essa espera silenciosa em Deus, vivida na inatividade e na ruptura com as ocupações habituais.

POR QUE UM DIA MENSAL DE DESERTO?

O fator “periodicidade” joga um papel determinante nesta experiência do dia do deserto.trata-se de ir cultivando em nós uma capacidade e uma necessidade de agendar que não são filhas da improvisação, do acaso. Naturalmente, a todos nos custa romper com nossas ocupações do dia a dia (achamo-nos tão necessários na tarefa que cada um desempenha…!).

Custa-nos também romper com nossos hábitos e comodidade doméstica, que nos proporciona

Certa segurança e fortaleza no conjunto de nossa imagem social. Pois bem. O dia de deserto obriga, ao menos uma vez por mês, a romper com a atividade e as preocupações prefixadas, para poder descobrir que todo trabalho tem raízes mais profundas das que ordinariamente lhe atribuímos e que caminhos batidos demais atrofiam ou mantém adormecidas algumas das nossas melhores qualidades. Quantas vezes, ao sair de manhã bem cedo para o lugar do deserto, vendo os meus vizinhos do bairro saírem também, mas… para os seus trabalhos cotidianos, tenho chegado a sentir vergonha e pensar que eu era privilegiado. Um dia inteiro para mim, para fazer o que eu quisesse. Quem pode dispor, pensava eu, desde luxo? Submergido, porém nos caminhos da solidão dos dias de deserto, encontrava a resposta a tão acusadora inquietude. Sim, é um privilégio, ou melhor, é um dom que não se dá a mim somente. É uma graça que me ajuda a ser mais autêntico em meu ser e em meu agir. Nesse sentido, torno-me mais autêntico e solidário nos caminhos desses irmãos que não tem descoberto (e não é por culpa deles) a necessidade de uma pausa no caminho para sentir outras palpitações da vida que não se escutam entre o fazer, o ser protagonista e o competir a quem nos força esta dura necessidade de sobreviver.

COMO SE FAZ UM DIA DE DESERTO

Para o dia do deserto não se deve preparar alguma coisa. É necessário preparar-se (isto sim) a si mesmo. Não se deve ir ao deserto somente com o corpo. É preciso levar o espírito convenientemente preparado mediante o desejo vivo do encontro com Deus. Esta disposição de ânimo deve vir propiciada por uma série de condições externas que é preciso cuidar com esmero. Minha experiência me adverte que, sem tais condições, o deserto degenera com facilidade num dia de campo, numa explosão de paisagens, coisas aliás boas de si, que podem Ser integradas no dia do deserto, mas que jamais se podem comparar com ele. Estas condições mínimas podemos resumi-las assim:

CLIMA DE VERDADEIRA SOLIDÃO

Buscar lugares distantes das pessoas. Esse espaço melhor nos dispõe a nos encontrarmos com as pessoas, das quais nós antes tínhamos nos distanciado, sob outras perspectivas que não seja o encontro massificado e barulhento de sempre.

NÃO OCUPAR O TEMPO COM LEITURAS

A bíblia, o Saltério, podem ajudar. No início dedicava-me a eles na maior parte do dia de deserto. Pouco a pouco, porém, tenho sentido a necessidade de prescindir também desses  livros. A Palavra de Deus vai ressoando viva de outra maneira, por dentro.

AUSTERIDADE NA COMIDA

O ideal seria que a comida seja preparada pelo retirante no dia anterior. Tomar  alimentos que não sejam pesados, que não induzem ao sono. No deserto, até a comida material no deve lembrar que ali estamos para sermos alimentados por Deus. René Voillaume nos diz: “o deserto é uma tentativa de avançar despido, fraco, desprovido de todo apoio humano, em jejum total de alimento terreno, mesmo espiritual, ao encontro com Deus”. É verdade, que não podemos ir longe se Deus não nos envia Ele mesmo o alimento, como fez Elias prostrado,  esgotado e extenuado. O deserto é sempre uma respeitosa espera do alimento divino. É como  um grito de socorro lançado a Deus.

ORAÇÃO SILENCIOSA

O elemento “silêncio” deveria ser sublinhado até o infinito. Silêncio dos sentidos, silêncio da mente, silêncio da afetividade. Instantes passeando, instantes sentados ou de joelhos, conforme lhe permitam o clima e o espaço. Sempre, porém, atento ao passo do Senhor, mergulhando na escuta dEle. Esse Senhor nos fala com a eloqüência penetrante do silêncio

ENSINAMENTO DO DESERTO

O deserto tem me conduzido a vivenciar a fé cristã com dom de si. Dom que se expressa não no ato imediato do serviço, no fato de dar-se aos outros, mas na gratuidade do puro oferecimento. Eu entro no deserto como quem vai ao encontro de Cristo na Cruz, para oferecer-me com Ele ao Pai pela salvação do mundo. O deserto se converte, assim, em lugar e escola de intercessão. Subjugado por um Jesus fraco e reduzido á importância, um Jesus que nos ensina  que o que importa é amar e que a libertação dos homens não está em proporção direta á  quantidade de nossas ações, mas á qualidade de nosso ser entregue incondicionalmente á  vontade do Pai. Os dias do deserto vão aperfeiçoando essa atitude de fé pura e transparente de  entrega radical mediante a qual nos sentimos instrumentos nas mãos de Deus para a  transformação de nossa sociedade e valores do Reino.

A aridez dos dias de deserto, esse despojar-se, ou melhor, esse deixar-se e despojar e conduzir por Ele, nos prepara para vivermos atentos ao passo de Deus na nossa história e para dar razão de nossa esperança nos tempos de crise em que vivemos. E, assim, quando chegam aqueles outros desertos, que para todos chegam, ou seja, o fracasso, a doença, as situações sem saída, estamos preparados por Deus, trabalhados pelo Espírito para não derrubar-nos nas crises e reconhecer os próprios limites como maior fonte de fecundidade e eficácia que a fé faz brotar no seio da existência de quem crê.

Não poderia acabar esta reflexão que, embora pobre, me permite ter uma visão de conjunto sobre estes dias de graça vividos sob a luz do deserto, sem dizer, com a boca cheia: obrigado, Senhor, pelo dia mensal de deserto, sacramento do teu passo de amor silencioso por minha vida, e revelador dessa verdade tão consoladora, de que somente Deus salva”.

Em “Cadernos de Oração” – 1987

(Boletim Jesus Caritas da fraternidade Sacerdotal – nº88 ano 1982)

PDF: O PEQUENO COMO FORÇA PARA GRANDES ENTREGAS

Boletim das Fraternidades, 159. Brasil

BOLETIM DA FRATERNIDADE SACERDOTAL JESUS CÁRITAS … 01

RESPONSÁVEIS … 02

SERVIÇOS … 04

SUMÁRIO … 05

DA REDAÇÃO
Apresentação … 06

ECOS DA ASSEMBLEIA DE CEBU
Carta do Responsável Internacional aos Irmãos do Mundo … 08

ESPIRITUALIDADE DO IRMÃO CARLOS
A Importância da Revisão de Vida … 18
Sete palavras para refletir sobre a Lição de gratuidade do Charles de Foucauld … 30

NOTÍCIAS
Votos Perpétuos dos Irmãozinhos Rafael e Norbert em Burquina Faso … 39
Do Encontro do Conselho Nacional … 42
15 compromissos do Pacto das Catacumbas pela CasaComum … 51

AGENDA 2019 e 2020
Retiro Anual em 2020 – Caucaia … 53
Outras datas … 54

LÍ, ASSISTI E INDICO
Indicação de Livros, Sites e Filmes … 55

FAMÍLIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD NO BRASIL … 56

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Boletim das Fraternidades 158. Brasil

SUMÁRIO

BOLETIM DA FRATERNIDADE SACERDOTAL

  • RESPONSAVEIS … 01
  • SERVIÇOS … 03
  • SUMARIO … 04
  • APRESENTAÇÃO … 05

RETIRO ANUAL DA FRATERNIDADE

  • Memoria: Recordando o retiro e a convivência … 07
  • Ecos do retiro (a voz dos participantes) … 16

MÊS DE NAZARÉ

  • Memoria: Recordando o mês de Nazaré … 17
  • As origens e a história da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas no mundo e no Brasil … 26
  • O ministério presbiteral: o perigo do ativismo e a solução de uma vida voltada à espiritualidade … 29
  • Reflexões existenciais sobre o ministério presbiteral … 44
  • Ecos do Mês de Nazare … 54

NOTÍCIAS

  • Falecimentos Pe Martim e Pe Ernesto … 60
  • Assembleia Internacional – CEBU – Filipinas … 63
  • Prioridades de nossa fraternidade … 71
  • Carta de Cebu ao Papa Francisco … 79
  • AGENDA 2019 – 2020 … 80

LI, ASSISTI E INDICO

  • Livros, sites, vídeos e filmes … 81
  • Família Espiritual do irmão CARLOS DE FOUCAULD no Brasil … 83

PDF: Boletim das Fraternidades n° 158

13 novembro, beatificação de Charles de FOUCAULD. José Inácio do VALE

Escrita de forma esplêndida a biografia do bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), por Pierre Sourisseau, arquivista da causa da canonização por mais de trinta anos, é uma obra magistral. O estudo da correspondência e da bibliografia dá acesso à busca do irmão Charles pela chamada de Jesus por fidelidade à Igreja, inovando, por exemplo, uma figura de “sacerdote livre”, ligada às circunstâncias e para os lugares cruzados. A imitação de um modelo, exposto a um rigor excessivo, dissuasivo e, no entanto, tão desejado por muitos companheiros, rapidamente detectado por seu pai espiritual, o sábio padre Henri Huvelin, abre caminho para uma identificação mais convincente com Nosso Senhor Jesus Cristo. Além das representações que poderiam impedi-lo, o martírio esperado selou a união total com a pessoa de Cristo. A rota é confusa. São preenchidas lacunas nas informações, desde as árvores genealógicas da família até os detalhes do assassinato final, através dos anos de juventude e maturidade, através do exame minucioso de fontes acessíveis. A serenidade do trabalho, despida de qualquer controvérsia fora do lugar, faz desta biografia um excelente livro de história e espiritualidade. No final de cada etapa, os “retratos” facilitam a entrada gradual do leitor neste sempre presente testemunho de fé, esperança e amor. Tudo se resume em “Jesus Cáritas”.

Pierre Sourisseau, é um dos melhores conhecedores do homem que foi oficial do exército francês, explorador em Marrocos, agnóstico, monge trapista, padre, missionário e eremita no deserto do Saara. Sourisseau arquivista da sua causa de beatificação, tem 35 anos ativos de trabalhos de pesquisa, de artigos e de conferências sobre Foucauld.

Para enriquecer o livro, o prefácio do padre Bernard Ardura, postulador da causa de canonização do Beato Charles de Foucauld, cujo espírito – como observa Pierre Sourisseau na conclusão da biografia – depois de sua morte, “rapidamente tornou-se um bem comum da Igreja” e “o seu carisma se manifesta sob muitas formas nos compromissos de homens e mulheres” do nosso tempo. O padre francês Bernard Ardura é presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.

Pierre Sourisseau, nasceu em 1939 em Saint-Paul-en-Pareds, uma comunidade nas proximidades de Croix-Bara. Exceto pelo período em que esteve no exército, Sourisseau viveu na região de Vendée, trabalhando até seu retiro em 1999 como pedreiro. Aos vinte anos, em 1959, ele foi recrutado no exército por 28 meses. Ele foi enviado para a Argélia, onde a guerra franco-argelina (1954-1962) ocorreu. Nos anos posteriores, ele costumava dizer que estava feliz por nunca ter matado ninguém. No entanto, este período o impressionou muito, o que é expresso em seu trabalho artístico. Já jovem, Sourisseau tinha o desejo de fazer arte visual e, em 1975, como artista autodidata, começou a fazer pinturas e esculturas, uma atividade que continuaria pelo resto da vida, resultando em um grande número de criações.

No dia 1º de dezembro de 1916, morria Charles de Foucauld, assassinado aos 58 anos de idade por um grupo armado da tribo dos Senussi, que tinha cercado o seu eremitério de Tamanrasset no Saara argelino. Se a notícia da sua morte não teve uma grande repercussão na Europa dilacerada pela Primeira Guerra Mundial, o religioso passaria aos olhos da história como um dos mais importantes da sua geração, na virada de dois séculos.

A primeira biografia escrita pelo renomado escritor francês René Bazin em 1923 consagrou a sua posteridade espiritual, tornando conhecida na França e, depois, no mundo a sua personalidade fora do comum e a sua obra prolífica, que suscitaram tantas vocações.

Beatificação

Em 13 de novembro de 2005, Charles de Foucauld foi beatificado na Basílica de São Pedro, em Roma. Ele agora é homenageado com o título de “Bem-aventurado”.

Aqui está um trecho de magnífica expressão teológica do Papa Bento XVI na beatificação do Irmão Universal:

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Vamos dar graças ao testemunho dado por Charles de Foucauld. Em sua vida contemplativa e escondida em Nazaré, ele descobriu a verdade sobre a humanidade de Jesus e convida-nos a contemplar o mistério da Encarnação; neste lugar, ele aprendeu muito sobre o Senhor, a quem ele queria seguir com humildade e pobreza. Ele descobriu que Jesus, que veio para se juntar a nós na nossa humanidade, nos convida a fraternidade universal, que ele posteriormente viveu no deserto do Saara, e ao amor, do qual Cristo nos deu o exemplo. Como sacerdote, ele colocou a Eucaristia e o Evangelho no coração de sua vida, as duas mesas da Palavra e do Pão, fonte da vida cristã e da missão”.

Meditar abissalmente

Quando Charles de Foucauld elabora os estatutos de sua congregação, da qual há anos trazia o projeto no coração, ele resume em poucas e belas palavras um ideal missionário, que parte de uma convicção: “todo batizado é convidado a viver como Jesus”. “Em todas as coisas, perguntarmo-nos o que Jesus faria no nosso lugar, e fazê-lo”. Daí de forma evangelical afirma: “gritar o Evangelho sobre os telhados com toda a nossa vida”.

Pelo menos duas dezenas de institutos e fraternidades de religiosos, padres e leigos, criados, na maior parte dos casos, após a sua morte e interpretando, cada qual segundo a sua sensibilidade, o legado de Charles de Foucauld, continuam a manter viva a espiritualidade daquele que o célebre teólogo dominicano francês Yves Congar um dia chamou de “farol místico” para o século XX, junto com Santa Teresinha do Menino Jesus.

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas-Bem-aventurado Charles de Foucauld

Fontes:

https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=fr&u=https://www.revue-etudes.com/article/charles-de-foucauld-de-pierre-sourisseau-18884&prev=search

http://www.thejosephhouse.org/defoucauld/biography.htm

PDF: 13 de novembro, beatificação de Charles de Foucauld

A profecía de Carlos de FOUCAULD. Antonio LÓPEZ BAEZA

“Vamos voltar ao Evangelho, caso contrário, Cristo não estará conosco”

Carlos de FOUCAULD

O futuro da Igreja é o deserto:

Como, se não, ele pode apontar para o mundo hoje o caminho que leva, da escravidão e dependências que o afligem, à alegre alegria dos filhos de Deus?

O futuro da Igreja é Nazaré:

A força profética (isto é, convincente) de sua palavra no mundo depende de sua encarnação nas necessidades e lutas dos pobres e marginalizados de cada sociedade.

O futuro da Igreja é a Fraternidade Universal:

Dentro dela, ninguém pode se sentir excluído ou marginalizado; tudo abraçado, acima de ritos e crenças, além das várias maneiras de conceber a existência humana e buscar a felicidade.

O futuro da Igreja é Jesus, Modelo Único:

Aquele que veio não para ser servido, mas para servir, o caminho da Humanidade Plena em seu coração manso e humilde; revelando com sua vida e com sua morte a face de um deus, pai e mãe, loucamente apaixonado por toda criatura humana.

O futuro da Igreja é gritar o evangelho com a vida:

Vida que infecta a alegria de se sentir já salva por Deus. Vida que encontra todo o seu significado no silêncio do serviço mais altruísta. A vida oferecida em Ação de Graças e Comunhão a todos que têm sede de Vida.

O futuro da Igreja é o último lugar:

Porque ele sabe, com a sabedoria do Espírito, que os príncipes e poderosos deste mundo sempre oprimem; e ele sabe que os primeiros lugares no banquete do Reino estão reservados para aqueles que foram aceitos, enquanto ainda faziam o que tinham que fazer, servos inúteis e sem lucro.

O futuro da Igreja é o Absoluto de Deus:

É conveniente para Ele crescer e Ela diminuir. Porque somente Deus salva – e somente Deus salva! -, o único capaz de remover os filhos de Abraão das pedras, e também único em satisfazer as aspirações mais profundas do coração humano.

O futuro da Igreja é a Adoração do Eterno:

O maior Deus que todas as instituições e idéias que louvam e defendem seu nome. Diante de Quem não há mais que o silêncio da alma apaixonada, rendida ao espanto de um amor tão imenso.

O futuro da Igreja é o Abandono em Deus:

Nada procura por si mesmo na forma de honras ou privilégios; ele aceita o mal-entendido, a perseguição e o fracasso que possam vir a permanecer fiéis ao Evangelho, seguindo seu Mestre com a Cruz; e ele trabalha da maneira mais gratuita, sabendo que sua missão no mundo não depende da eficácia dos meios temporários.

O futuro da Igreja é a simplicidade evangélica:

Vamos voltar ao evangelho! Simplicidade da hierarquia. Simplicidade moral. Simplicidade nas expressões litúrgicas – Simplicidade, acima de tudo, na exposição da Verdade Revelada, transmitida a nós pela Diafonia da Palavra feita Carne.

A Igreja do Futuro será uma Igreja dos Ressuscitados:

Mulheres e homens ousados e livres, amantes apaixonados da vida e defensores arriscados da dignidade e dos direitos humanos; Abençoados na pobreza por seu espírito de solidariedade; dispostos a dar suas vidas, no dia a dia de suas responsabilidades, como o grão de trigo que não tem medo de morrer para dar muito fruto do bem comum …

Ou não será de todo!

PDF: A profecía de Carlos de FOUCAULD. Antonio LÓPEZ BAEZA. Port

O Quinto Evangelho. José Inácio do VALE

O coração do deserto de Judá para os cristão é Nazaré, Chamada também por São Jerônimo como a Flor da Galileia. Devido a sua importância para os cristãos, a cidade situada em um vale no sudeste da Galileia, a 157 quilômetros ao norte de Jerusalém, é o lugar onde, segundo a tradição cristã, o arcanjo Gabriel anunciou a Maria que ela seria a mãe de Jesus. “No sexto mês, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da família de Davi. A virgem se chamava Maria” (Lc 1,26-27). E é também nesta cidade que, segundo o texto bíblico do evangelista Lucas, Jesus passa sua infância, adolescência e juventude, e inicia a vida pública.

Na pequena Nazaré tudo começa. “Jesus se encarnou aqui para o mundo. Estar na terra santa significa reviver fisicamente: ver a terra e as cores, sentir os paladares e aromas que também foram sentidos por Jesus”, destaca o frade capuchinho Pierbattista Pizzaballa, custódio da Terra Santa.

A Terra Santa para os cristãos é também chamada de quinto Evangelho ou o oitavo sacramento, porque é o lugar onde fisicamente nos encontramos com a experiência de Jesus Cristo. Vir à Terra Santa significa sentir a mesma experiência da revelação e tocar com as nossas próprias mãos o evento da revelação tão significativo para todos nós. E também uma experiência cultural, porque é o único pais onde coexistem as três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), com suas diversas culturas. É uma experiência única recomendada a todos os fiéis”, enfatiza frei Pierbattista Pizzaballa.

NAZARÉ HOJE

Localizada sobre uma colina a 350 metros em relação ao Mar Mediterrâneo, Nazaré é rodeada por outros montes mais altos. Ao sul da cidade está a planície de Esdrelon, que fica na parte sul da Baixa Galileia.

Hoje a cidade possui cerca de 71.500 habitantes: 25 mil árabes muçulmanos, 22.500 árabes cristãos e 24 mil hebreus. É a comunidade árabe mais importante de Israel depois de Jerusalém. Muçulmanos e cristãos vivem em um bairro situado em uma parte alta conhecida como Nazaré Illit.

IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD E NAZARÉ

“Deixemos que ele viva em nós, que prossiga em nós sua vida de Nazaré. Deixemos que ele continue em nos sua vida de universal caridade. Que nós possamos dizer a todo momento de nossa vida: “vivo, mas já não sou mais eu quem vive, é Jesus que vive em mim” (Charles de Foucauld, In: antologia p. 464).

“A encarnação tem sua fonte na bondade de Deus… mas o que logo aparece de maravilhoso é que ela brilha como um sinal ofuscante… “É a humildade infinita que contem semelhante mistério” (Retiro em Nazaré, novembro de 1897).

O Irmão Carlos é alguém que precisa sempre expressar na vida o que descobre e o que sente. A partir desse momento, seguir Jesus e viver somente para Deus será algo extremamente concreto para ele: nessa aldeiazinha Jesus viveu durante trinta anos. Segui-lo será, portanto partilhar concretamente a mesma vida e viver somente para Deus. Será escolher esta vida escondida em Nazaré, numa condição de pobre…

A vida toda do Irmão Carlos foi marcada por uma grande docilidade ao Espírito Santo: “Vamos deixar que a graça nos conduza… Vamos deixar que o Espírito Santo nos dirija e só tomemos as rédeas de nossa oração quando ele as colocar em nossas mãos”, disse o irmão Carlos.

O Irmão Carlos rezava fielmente, três vezes ao dia e muitas vezes no meio da noite, o hino: “Vinde, Espírito Criador”, oração que nos legou. É um meio muito simples, mas que não devemos abandonar.

Sete anos depois de sua conversão, quando deixa a trapa para ir enfim ao encontro de Jesus no caminho de Nazaré, ele escreve: “Minha vocação é descer”. E, no fim da vida, comentando uma frase do Evangelho: “ele desceu com eles para Nazaré”, escreve novamente: “A vida toda, ele só fez descer. Descer encarnando-se. Descer fazendo-se criancinha, descer obedecendo, descer tornando-se pobre, abandonado, perseguido, torturado, colocando-se sempre no último lugar”.

É muito importante descobrir através do Evangelho a humildade de Deus, d’Aquele que vem a nós na pessoa de Jesus de Nazaré, aquele que desce:

– Em Belém, como uma criancinha sem defesa e um pobre sem abrigo.
– Em Nazaré, durante trinta anos, o tempo necessário para formar, com todas as suas reações, um homem simples e pobre, um homem dessa aldeia de onde não podia sair nada de bom (Mt 2,23-13, 54 a 58 – Jo 1,46).
– No Jordão, para ser batizado, colocando-se no meio dos pecadores, apesar dos protestos de João Batista (Mt 3,13-16).
– No deserto, para ser tentado: tentação de tomar um outro caminho, de não ser o servo (Mt 4,1-11).
– À mesa de Zaqueu e à de Levi, ainda com os publicanos e pecadores (Mt 9, 9-13 – Lc 19,1-10).
– Aos pés dos discípulos, num gesto de escravo, quando chega sua hora (Jo 13,1-20).
– No meio dos condenados e excluídos nas trevas de Getsêmani e do Gólgota (Mt 26,36-46 – 27,32-52) etc.

É preciso que cada uma faça desses textos algo seu… Não se trata somente de Lê-los, é preciso guardá-los no coração. É preciso chegar à convicção de que o amor se torna pequeno diante daqueles a quem ama. É assim que ao buscar os fundamentos da oração, somos sempre reconduzidos ao espírito de infância.

Não há dúvida que o choque data desse tempo, pois sete anos mais tarde escreverá: “Tenho sede de levar, enfim, a vida que procuro há sete anos, a vida que entrevi, adivinhei, andando nas ruas de Nazaré, ruas que os pés de Nosso Senhor percorreram, como um artesão pobre, perdido na abjeção e na obscuridade”.

“É muito importante situar bem esta instituição fundamental do irmão Carlos porque, se nós estamos na Fraternidade, é porque de alguma maneira fomos seduzidos por Deus na pessoa de Jesus de Nazaré”, escreve a irmãzinha Annie de Jesus durante uma sessão de formação para as irmãzinhas de Jesus.

Toda a vida do Irmão Carlos foi dominada pelo desejo apaixonado de imitar Jesus de Nazaré e de segui-lo em seu caminho de servo, até o fim.

Escreve ele: “Nosso aniquilamento é o meio mais perfeito que temos de unir-nos a Jesus e de fazer o bem…” (Carta a Marie de Bondy, 1º de dezembro de 1916).

Na dimensão do amor de Deus, na caridade com o próximo e na fidelidade do santo Evangelho de Cristo, somos também o Quinto Evangelho!

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal JesusCaritas
Bem-aventurado Charles de Foucauld
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

Fontes:

(1) Revista Família Cristã, dezembro de 2013, p. 67.
(2) Irmãzinha Annie de Jesus, In. Caminhando na oração… Com o irmão Carlos de Jesus, s/d.