Boletim das Fraternidades 158. Brasil

SUMÁRIO

BOLETIM DA FRATERNIDADE SACERDOTAL

  • RESPONSAVEIS … 01
  • SERVIÇOS … 03
  • SUMARIO … 04
  • APRESENTAÇÃO … 05

RETIRO ANUAL DA FRATERNIDADE

  • Memoria: Recordando o retiro e a convivência … 07
  • Ecos do retiro (a voz dos participantes) … 16

MÊS DE NAZARÉ

  • Memoria: Recordando o mês de Nazaré … 17
  • As origens e a história da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas no mundo e no Brasil … 26
  • O ministério presbiteral: o perigo do ativismo e a solução de uma vida voltada à espiritualidade … 29
  • Reflexões existenciais sobre o ministério presbiteral … 44
  • Ecos do Mês de Nazare … 54

NOTÍCIAS

  • Falecimentos Pe Martim e Pe Ernesto … 60
  • Assembleia Internacional – CEBU – Filipinas … 63
  • Prioridades de nossa fraternidade … 71
  • Carta de Cebu ao Papa Francisco … 79
  • AGENDA 2019 – 2020 … 80

LI, ASSISTI E INDICO

  • Livros, sites, vídeos e filmes … 81
  • Família Espiritual do irmão CARLOS DE FOUCAULD no Brasil … 83

PDF: Boletim das Fraternidades n° 158

13 novembro, beatificação de Charles de FOUCAULD. José Inácio do VALE

Escrita de forma esplêndida a biografia do bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), por Pierre Sourisseau, arquivista da causa da canonização por mais de trinta anos, é uma obra magistral. O estudo da correspondência e da bibliografia dá acesso à busca do irmão Charles pela chamada de Jesus por fidelidade à Igreja, inovando, por exemplo, uma figura de “sacerdote livre”, ligada às circunstâncias e para os lugares cruzados. A imitação de um modelo, exposto a um rigor excessivo, dissuasivo e, no entanto, tão desejado por muitos companheiros, rapidamente detectado por seu pai espiritual, o sábio padre Henri Huvelin, abre caminho para uma identificação mais convincente com Nosso Senhor Jesus Cristo. Além das representações que poderiam impedi-lo, o martírio esperado selou a união total com a pessoa de Cristo. A rota é confusa. São preenchidas lacunas nas informações, desde as árvores genealógicas da família até os detalhes do assassinato final, através dos anos de juventude e maturidade, através do exame minucioso de fontes acessíveis. A serenidade do trabalho, despida de qualquer controvérsia fora do lugar, faz desta biografia um excelente livro de história e espiritualidade. No final de cada etapa, os “retratos” facilitam a entrada gradual do leitor neste sempre presente testemunho de fé, esperança e amor. Tudo se resume em “Jesus Cáritas”.

Pierre Sourisseau, é um dos melhores conhecedores do homem que foi oficial do exército francês, explorador em Marrocos, agnóstico, monge trapista, padre, missionário e eremita no deserto do Saara. Sourisseau arquivista da sua causa de beatificação, tem 35 anos ativos de trabalhos de pesquisa, de artigos e de conferências sobre Foucauld.

Para enriquecer o livro, o prefácio do padre Bernard Ardura, postulador da causa de canonização do Beato Charles de Foucauld, cujo espírito – como observa Pierre Sourisseau na conclusão da biografia – depois de sua morte, “rapidamente tornou-se um bem comum da Igreja” e “o seu carisma se manifesta sob muitas formas nos compromissos de homens e mulheres” do nosso tempo. O padre francês Bernard Ardura é presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.

Pierre Sourisseau, nasceu em 1939 em Saint-Paul-en-Pareds, uma comunidade nas proximidades de Croix-Bara. Exceto pelo período em que esteve no exército, Sourisseau viveu na região de Vendée, trabalhando até seu retiro em 1999 como pedreiro. Aos vinte anos, em 1959, ele foi recrutado no exército por 28 meses. Ele foi enviado para a Argélia, onde a guerra franco-argelina (1954-1962) ocorreu. Nos anos posteriores, ele costumava dizer que estava feliz por nunca ter matado ninguém. No entanto, este período o impressionou muito, o que é expresso em seu trabalho artístico. Já jovem, Sourisseau tinha o desejo de fazer arte visual e, em 1975, como artista autodidata, começou a fazer pinturas e esculturas, uma atividade que continuaria pelo resto da vida, resultando em um grande número de criações.

No dia 1º de dezembro de 1916, morria Charles de Foucauld, assassinado aos 58 anos de idade por um grupo armado da tribo dos Senussi, que tinha cercado o seu eremitério de Tamanrasset no Saara argelino. Se a notícia da sua morte não teve uma grande repercussão na Europa dilacerada pela Primeira Guerra Mundial, o religioso passaria aos olhos da história como um dos mais importantes da sua geração, na virada de dois séculos.

A primeira biografia escrita pelo renomado escritor francês René Bazin em 1923 consagrou a sua posteridade espiritual, tornando conhecida na França e, depois, no mundo a sua personalidade fora do comum e a sua obra prolífica, que suscitaram tantas vocações.

Beatificação

Em 13 de novembro de 2005, Charles de Foucauld foi beatificado na Basílica de São Pedro, em Roma. Ele agora é homenageado com o título de “Bem-aventurado”.

Aqui está um trecho de magnífica expressão teológica do Papa Bento XVI na beatificação do Irmão Universal:

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Vamos dar graças ao testemunho dado por Charles de Foucauld. Em sua vida contemplativa e escondida em Nazaré, ele descobriu a verdade sobre a humanidade de Jesus e convida-nos a contemplar o mistério da Encarnação; neste lugar, ele aprendeu muito sobre o Senhor, a quem ele queria seguir com humildade e pobreza. Ele descobriu que Jesus, que veio para se juntar a nós na nossa humanidade, nos convida a fraternidade universal, que ele posteriormente viveu no deserto do Saara, e ao amor, do qual Cristo nos deu o exemplo. Como sacerdote, ele colocou a Eucaristia e o Evangelho no coração de sua vida, as duas mesas da Palavra e do Pão, fonte da vida cristã e da missão”.

Meditar abissalmente

Quando Charles de Foucauld elabora os estatutos de sua congregação, da qual há anos trazia o projeto no coração, ele resume em poucas e belas palavras um ideal missionário, que parte de uma convicção: “todo batizado é convidado a viver como Jesus”. “Em todas as coisas, perguntarmo-nos o que Jesus faria no nosso lugar, e fazê-lo”. Daí de forma evangelical afirma: “gritar o Evangelho sobre os telhados com toda a nossa vida”.

Pelo menos duas dezenas de institutos e fraternidades de religiosos, padres e leigos, criados, na maior parte dos casos, após a sua morte e interpretando, cada qual segundo a sua sensibilidade, o legado de Charles de Foucauld, continuam a manter viva a espiritualidade daquele que o célebre teólogo dominicano francês Yves Congar um dia chamou de “farol místico” para o século XX, junto com Santa Teresinha do Menino Jesus.

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas-Bem-aventurado Charles de Foucauld

Fontes:

https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=fr&u=https://www.revue-etudes.com/article/charles-de-foucauld-de-pierre-sourisseau-18884&prev=search

http://www.thejosephhouse.org/defoucauld/biography.htm

PDF: 13 de novembro, beatificação de Charles de Foucauld

A profecía de Carlos de FOUCAULD. Antonio LÓPEZ BAEZA

“Vamos voltar ao Evangelho, caso contrário, Cristo não estará conosco”

Carlos de FOUCAULD

O futuro da Igreja é o deserto:

Como, se não, ele pode apontar para o mundo hoje o caminho que leva, da escravidão e dependências que o afligem, à alegre alegria dos filhos de Deus?

O futuro da Igreja é Nazaré:

A força profética (isto é, convincente) de sua palavra no mundo depende de sua encarnação nas necessidades e lutas dos pobres e marginalizados de cada sociedade.

O futuro da Igreja é a Fraternidade Universal:

Dentro dela, ninguém pode se sentir excluído ou marginalizado; tudo abraçado, acima de ritos e crenças, além das várias maneiras de conceber a existência humana e buscar a felicidade.

O futuro da Igreja é Jesus, Modelo Único:

Aquele que veio não para ser servido, mas para servir, o caminho da Humanidade Plena em seu coração manso e humilde; revelando com sua vida e com sua morte a face de um deus, pai e mãe, loucamente apaixonado por toda criatura humana.

O futuro da Igreja é gritar o evangelho com a vida:

Vida que infecta a alegria de se sentir já salva por Deus. Vida que encontra todo o seu significado no silêncio do serviço mais altruísta. A vida oferecida em Ação de Graças e Comunhão a todos que têm sede de Vida.

O futuro da Igreja é o último lugar:

Porque ele sabe, com a sabedoria do Espírito, que os príncipes e poderosos deste mundo sempre oprimem; e ele sabe que os primeiros lugares no banquete do Reino estão reservados para aqueles que foram aceitos, enquanto ainda faziam o que tinham que fazer, servos inúteis e sem lucro.

O futuro da Igreja é o Absoluto de Deus:

É conveniente para Ele crescer e Ela diminuir. Porque somente Deus salva – e somente Deus salva! -, o único capaz de remover os filhos de Abraão das pedras, e também único em satisfazer as aspirações mais profundas do coração humano.

O futuro da Igreja é a Adoração do Eterno:

O maior Deus que todas as instituições e idéias que louvam e defendem seu nome. Diante de Quem não há mais que o silêncio da alma apaixonada, rendida ao espanto de um amor tão imenso.

O futuro da Igreja é o Abandono em Deus:

Nada procura por si mesmo na forma de honras ou privilégios; ele aceita o mal-entendido, a perseguição e o fracasso que possam vir a permanecer fiéis ao Evangelho, seguindo seu Mestre com a Cruz; e ele trabalha da maneira mais gratuita, sabendo que sua missão no mundo não depende da eficácia dos meios temporários.

O futuro da Igreja é a simplicidade evangélica:

Vamos voltar ao evangelho! Simplicidade da hierarquia. Simplicidade moral. Simplicidade nas expressões litúrgicas – Simplicidade, acima de tudo, na exposição da Verdade Revelada, transmitida a nós pela Diafonia da Palavra feita Carne.

A Igreja do Futuro será uma Igreja dos Ressuscitados:

Mulheres e homens ousados e livres, amantes apaixonados da vida e defensores arriscados da dignidade e dos direitos humanos; Abençoados na pobreza por seu espírito de solidariedade; dispostos a dar suas vidas, no dia a dia de suas responsabilidades, como o grão de trigo que não tem medo de morrer para dar muito fruto do bem comum …

Ou não será de todo!

PDF: A profecía de Carlos de FOUCAULD. Antonio LÓPEZ BAEZA. Port

O Quinto Evangelho. José Inácio do VALE

O coração do deserto de Judá para os cristão é Nazaré, Chamada também por São Jerônimo como a Flor da Galileia. Devido a sua importância para os cristãos, a cidade situada em um vale no sudeste da Galileia, a 157 quilômetros ao norte de Jerusalém, é o lugar onde, segundo a tradição cristã, o arcanjo Gabriel anunciou a Maria que ela seria a mãe de Jesus. “No sexto mês, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da família de Davi. A virgem se chamava Maria” (Lc 1,26-27). E é também nesta cidade que, segundo o texto bíblico do evangelista Lucas, Jesus passa sua infância, adolescência e juventude, e inicia a vida pública.

Na pequena Nazaré tudo começa. “Jesus se encarnou aqui para o mundo. Estar na terra santa significa reviver fisicamente: ver a terra e as cores, sentir os paladares e aromas que também foram sentidos por Jesus”, destaca o frade capuchinho Pierbattista Pizzaballa, custódio da Terra Santa.

A Terra Santa para os cristãos é também chamada de quinto Evangelho ou o oitavo sacramento, porque é o lugar onde fisicamente nos encontramos com a experiência de Jesus Cristo. Vir à Terra Santa significa sentir a mesma experiência da revelação e tocar com as nossas próprias mãos o evento da revelação tão significativo para todos nós. E também uma experiência cultural, porque é o único pais onde coexistem as três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), com suas diversas culturas. É uma experiência única recomendada a todos os fiéis”, enfatiza frei Pierbattista Pizzaballa.

NAZARÉ HOJE

Localizada sobre uma colina a 350 metros em relação ao Mar Mediterrâneo, Nazaré é rodeada por outros montes mais altos. Ao sul da cidade está a planície de Esdrelon, que fica na parte sul da Baixa Galileia.

Hoje a cidade possui cerca de 71.500 habitantes: 25 mil árabes muçulmanos, 22.500 árabes cristãos e 24 mil hebreus. É a comunidade árabe mais importante de Israel depois de Jerusalém. Muçulmanos e cristãos vivem em um bairro situado em uma parte alta conhecida como Nazaré Illit.

IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD E NAZARÉ

“Deixemos que ele viva em nós, que prossiga em nós sua vida de Nazaré. Deixemos que ele continue em nos sua vida de universal caridade. Que nós possamos dizer a todo momento de nossa vida: “vivo, mas já não sou mais eu quem vive, é Jesus que vive em mim” (Charles de Foucauld, In: antologia p. 464).

“A encarnação tem sua fonte na bondade de Deus… mas o que logo aparece de maravilhoso é que ela brilha como um sinal ofuscante… “É a humildade infinita que contem semelhante mistério” (Retiro em Nazaré, novembro de 1897).

O Irmão Carlos é alguém que precisa sempre expressar na vida o que descobre e o que sente. A partir desse momento, seguir Jesus e viver somente para Deus será algo extremamente concreto para ele: nessa aldeiazinha Jesus viveu durante trinta anos. Segui-lo será, portanto partilhar concretamente a mesma vida e viver somente para Deus. Será escolher esta vida escondida em Nazaré, numa condição de pobre…

A vida toda do Irmão Carlos foi marcada por uma grande docilidade ao Espírito Santo: “Vamos deixar que a graça nos conduza… Vamos deixar que o Espírito Santo nos dirija e só tomemos as rédeas de nossa oração quando ele as colocar em nossas mãos”, disse o irmão Carlos.

O Irmão Carlos rezava fielmente, três vezes ao dia e muitas vezes no meio da noite, o hino: “Vinde, Espírito Criador”, oração que nos legou. É um meio muito simples, mas que não devemos abandonar.

Sete anos depois de sua conversão, quando deixa a trapa para ir enfim ao encontro de Jesus no caminho de Nazaré, ele escreve: “Minha vocação é descer”. E, no fim da vida, comentando uma frase do Evangelho: “ele desceu com eles para Nazaré”, escreve novamente: “A vida toda, ele só fez descer. Descer encarnando-se. Descer fazendo-se criancinha, descer obedecendo, descer tornando-se pobre, abandonado, perseguido, torturado, colocando-se sempre no último lugar”.

É muito importante descobrir através do Evangelho a humildade de Deus, d’Aquele que vem a nós na pessoa de Jesus de Nazaré, aquele que desce:

– Em Belém, como uma criancinha sem defesa e um pobre sem abrigo.
– Em Nazaré, durante trinta anos, o tempo necessário para formar, com todas as suas reações, um homem simples e pobre, um homem dessa aldeia de onde não podia sair nada de bom (Mt 2,23-13, 54 a 58 – Jo 1,46).
– No Jordão, para ser batizado, colocando-se no meio dos pecadores, apesar dos protestos de João Batista (Mt 3,13-16).
– No deserto, para ser tentado: tentação de tomar um outro caminho, de não ser o servo (Mt 4,1-11).
– À mesa de Zaqueu e à de Levi, ainda com os publicanos e pecadores (Mt 9, 9-13 – Lc 19,1-10).
– Aos pés dos discípulos, num gesto de escravo, quando chega sua hora (Jo 13,1-20).
– No meio dos condenados e excluídos nas trevas de Getsêmani e do Gólgota (Mt 26,36-46 – 27,32-52) etc.

É preciso que cada uma faça desses textos algo seu… Não se trata somente de Lê-los, é preciso guardá-los no coração. É preciso chegar à convicção de que o amor se torna pequeno diante daqueles a quem ama. É assim que ao buscar os fundamentos da oração, somos sempre reconduzidos ao espírito de infância.

Não há dúvida que o choque data desse tempo, pois sete anos mais tarde escreverá: “Tenho sede de levar, enfim, a vida que procuro há sete anos, a vida que entrevi, adivinhei, andando nas ruas de Nazaré, ruas que os pés de Nosso Senhor percorreram, como um artesão pobre, perdido na abjeção e na obscuridade”.

“É muito importante situar bem esta instituição fundamental do irmão Carlos porque, se nós estamos na Fraternidade, é porque de alguma maneira fomos seduzidos por Deus na pessoa de Jesus de Nazaré”, escreve a irmãzinha Annie de Jesus durante uma sessão de formação para as irmãzinhas de Jesus.

Toda a vida do Irmão Carlos foi dominada pelo desejo apaixonado de imitar Jesus de Nazaré e de segui-lo em seu caminho de servo, até o fim.

Escreve ele: “Nosso aniquilamento é o meio mais perfeito que temos de unir-nos a Jesus e de fazer o bem…” (Carta a Marie de Bondy, 1º de dezembro de 1916).

Na dimensão do amor de Deus, na caridade com o próximo e na fidelidade do santo Evangelho de Cristo, somos também o Quinto Evangelho!

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal JesusCaritas
Bem-aventurado Charles de Foucauld
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

Fontes:

(1) Revista Família Cristã, dezembro de 2013, p. 67.
(2) Irmãzinha Annie de Jesus, In. Caminhando na oração… Com o irmão Carlos de Jesus, s/d.

Silêncio amoroso. José Inácio do VALE

“O falar é de prata, o silêncio é de ouro”.

“Na procura de conhecimentos, o primeiro passo é o silêncio, o segundo ouvir, o terceiro relembrar, o quarto praticar e o quinto ensinar aos outros” – (Textos Judaicos).

Vivemos no mundo dominado pelo barulho, pela falação, pela comunicação ditatorial, pela imagem com o áudio invasor determinante. A poluição sonora é patologizante!

Constantemente estamos sendo bombardeados com a zoada do alto-falante, buzinas, motores dos veículos, das redes sociais, televisores, celulares, tabletes, rádios e vários outros dispositivos que nos mantêm conectados, é imprescindível que se faça uma pausa para desfrutar um pouco do sagrado silêncio. Procure um lugar agradável e silencioso, recarregue-se, redescubra seus pensamentos, encontre-se no silêncio, mergulhe abissalmente no seu interior.

Seja um amante na escuta do silêncio, um praticante da meditação e aberto para potencialidade transcendental. Ao meditar pode evitar tomar decisões com as quais não se sente confortável, resolver dilemas que o incomodam há algum tempo e ainda a conhecer-se melhor. Se está ciente de seus pensamentos e de sua fonte psicológica, é mais provável que resolva seus problemas com mais facilidade e traga grande claridade emocional à sua vida com abundância de paz, serenidade e felicidade.

A meditação e a oração propiciam redefinição de diversas opções, ajuda a pessoa a se tornar mais consciente, sábia do que está fazendo e a melhorar e aprimorar sua experiência profunda de vida. O silêncio é libertador, curativo e de uma terapia imensurável.

Maria de Nazaré

No Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, São Luís de Montfort nos leva a Nazaré a encontrar uma jovenzinha escondida. Não com medo, mas reservada, silenciosa, delicada e simples. Era Maria. O silêncio dela era do agrado de Deus e pela sua humildade foi escolhida para tão perfeita missão: mãe de Jesus Cristo. Pelo sagrado silêncio da Virgem Maria, foi gerado o Verbo encarnado. Aquele que passou maior parte de sua vida em silêncio. Seu pai era o varão justo do silêncio. São José é um exemplo de silenciosa dedicação ao projeto de Deus. É o homem de uma grande nobreza de alma que, no santo silêncio de amor e de fé, recebe o mistério que está além da sua capacidade, no entanto, acolhe na confiança da sua crença silenciosa a vontade de Deus. A Sagrada Família é o maior exemplo da espiritualidade do silêncio.

O encontro com Deus no silêncio, é o encontro do diálogo e da escuta pelo coração. O coração fala e escuta pela dimensão do amor. Essa é a verbalização de Deus. A vivência do silêncio é de uma profundidade espiritual de unificação amorosa.

Santo Inácio de Antioquia afirma que Cristo é “a Palavra que procede do silêncio”. O bom Deus que se revela no silêncio e na palavra, solicita a escuta do homem e para a escuta é essencial o sagrado silêncio.

Conclusão

O silêncio é um espaço sagrado, enriquecedor, poderoso, iluminador, onde permanecemos no relacionamento com Deus, atentos a Ele. É um silêncio contemplativo, em que contemplamos Sua ação amorosa em nossas vidas e permanecemos a escutá-Lo. Nesse silêncio de intimidade, nós nos entretemos com a Sua Palavra. O silêncio é de suma importância para receber sabedoria numa modalidade única, experiência mística e intensa intimidade com Deus e o crescimento na comunhão com Ele.

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas
Do Bem-aventurado Charles de Foucauld

PDF: silencio-amoroso