Charles de FOUCAULD. Inácio José do VALE

“Quando amamos alguém, estamos de verdade nele, estamos nele com o amor, vivemos nele com o amor, não vivemos mais nós mesmos, somos desprendidos de nós mesmos, fora de nós mesmos”.
Beato Charles Foucauld (1858-1916) (1)
Apóstolo e eremita do Deserto do Saara

Há pessoas que habitam na Acrópole do amor em prol do bem comum e fazem muita gente triunfarem e deixam um monumental legado de bênçãos para posteridade, dentre elas, está o maravilhoso Beato Charles de Foucauld, visconde de Foucauld ou simplesmente irmão Carlos de Jesus.

Charles de Foucauld é conhecido como irmão Carlos de Jesus, Irmão Universal, Apóstolo e eremita do Saara e o missionário da beleza ecumênica.

O irmão Carlos vivia num amor radical ao Senhor Jesus Cristo. Partia da sua abissal experiência com Deus Pai, sua renúncia das glórias mundanas e materiais, para prática missionária, diálogo inter-religioso, vida eremítica, até chegar ao martírio.

A sua profunda visão era buscar o que muitos não querem: o último lugar e o “batismo de sangue”. Seu testemunho é provocador, renovador empreendedor para aqueles que falam, pregam e escrevem muito, no entanto, pouco faz prol do Reino de Deus.

É com propriedade que o seu legado é de eficaz exemplo para seus fiéis seguidores. Sua vida leva de fato e de verdade a ser imitada com ardente paixão e caridade. Viveu e ensinou pelo testemunho a transparência evangélica, ardente amor pela Eucaristia, adoração, vigília de oração, jejum, dedicação as Sagradas Escrituras, silêncio, missionaridade e caridade.

Toda obra do irmão Carlos tinha um único objetivo: a glória da Santíssima Trindade. No contexto da glória trinitária, estava a comunhão de todos os filhos de Deus. Tudo pela fraternidade universal.

Escreve ele: “Quero acostumar todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus, idólatras, a considerar-me com seu irmão começando a denominar a casa ‘a fraternidade’ (a KHAOVA em árabe) e isto é um prazer para mim” (2).

Para o irmão Carlos, a vida cristã tem como fundamento o zelo da vivência evangélica. É fazer ruptura com o parcial, artificial, banal, superficial e infernal. É mergulhar na providência divina e no abandono total ao Todo-Poderoso. Irmão Carlos entende a vida como uma entrega radical ao absoluto de Deus. Daí, sua experiência concreta de morar no deserto para ser presença entre os últimos. No deserto, cheio da plenitude do Pai Celestial, morre aos 58 anos, assassinado por um único disparo de um rapaz de 16 anos, de uma organização terrorista do Saara, no entardecer do dia 01 de dezembro de 1916.

Escreve o irmão Carlos de Jesus: “Sede de Vós ofertar o maior sacrifício que fosse possível fazer por Vós, abandonando para sempre a minha família que era toda a minha felicidade e apartando-me para viver e morrer muito longe dela”.

Frei Inácio José do Vale, FCF
Professor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal JesusCaritas
Bem-aventurado Charles de Foucauld
E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

Notas:

(1) Charles de Foucauld. Scritti Spirituali, VII, Citta Nuova, Roma 1975, p.110.
(2) Charles de Foucauld. Jean – Fraçois Six. São Paulo: Edições Loyola, 1981, p. 43.

PDF: IRMÃO CARLOS DE JESUS

Charles de Foucauld: fortalecer sempre a nossa fé. Inácio José do VALE

“Deus faz uso de ventos contrários para nos conduzir ao porto seguro”, afirma Charles de Foucauld

No confronto de tantas incompatibilidades do mundo atual e da franqueza aparente das forças espirituais, nossos corações têm necessidade mais do que nunca de acreditar no poder de Deus e da ação de seres humanos que vivem o santo Evangelho de Cristo. Precisamos fortalecer sempre a nossa fé e acreditar no futuro glorioso. Eis porque, no século vinte, como em todas as épocas, o bom Deus associa às afirmações do Sermão da Montanha o exemplo vivo de certos homens e mulheres chamados por Ele a serem evangelhos vivos. Há vários apóstolos em nosso tempo, e dentre eles temos o humilde eremita Charles de Foucauld que não cessa de crescer, por causa da incomparável coragem e missão com que se deu à vida evangélica. No entanto, longe de separar-se do mundo, engajou-se nele profundamente para revelar um abissal amor e esperança que tem poder de triunfar a paz, a caridade e a justiça pelo mundo melhor. Do deserto do Saara em Tamanrasset, África, onde exerceu seu ministério evangélico e também foi martirizado, acreditou com todas as forças na grandeza do amor de Deus e do amor ao próximo e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré. O seu projeto pregado e vivido era de fraternidade universal. A vida e a obra de Charles de Foucauld, cujo fundamento era gritar com o seu testemunho o Evangelho, tem seu legado autenticado é atestado pela semente espiritual que após a morte dele não para de crescer e sua mensagem é de uma riqueza profunda para o nosso tempo, ou seja, é viva e eficaz para sempre. Seu carisma e sua espiritualidade têm conquistados seguidores no mundo inteiro.

Na arena dos heróis da fé que lutaram e venceram pelo Reino de Deus, podemos tirar dos seus exemplos alimentos para nossa fé e com a maravilhosa graça de Deus podemos testemunhar da mesma forma que eles e ter o mesmo fim para glória da Igreja de Cristo.

É descobrindo testemunha de Jesus Cristo como o bem-aventurado Charles de Foucauld, que a nossa vida é fortalecida na santíssima fé em Deus Todo-Poderoso e temos certeza que a vida tem sentido no porto seguro do amor, da graça e da providência divina. Daí, ter como plataforma uma espiritualidade é possuir firme fundamento para caminhar rumo á vida eterna. Segue nessa jornada leituras espirituais, a Bíblia Sagrada, Eucaristia, retiros espirituais e contínua formação em espiritualidade. Todo o nosso ser é preenchido no esmero das coisas do Pai Eterno. A nossa felicidade é tudo isso e na transmissão desse tesouro ao nosso semelhante. Nosso Senhor Jesus Cristo fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho (cf. 2 Tm 1, 10).

“Sentindo-se nas mãos do Amado (Jesus), e o que Amado, que paz, que doçura, que profundezas de paz e confiança!” (Charles de Foucauld, carta para Henry de Castries, 27 de Fevereiro 1904).

Frei Inácio José do Vale
Escritor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

PDF: FORTALECER SEMPRE A NOSSA FÉ

A missionaridade do presbítero diocesano. Mauricio da SILVA JARDIM

XI Assembleia Geral, Cebul, Filipinas – 15 a 30 de janeiro 2019.
A missionariedade do presbítero diocesano – Fundamentação

OBSERVAÇÕES INICIAIS:

É determinante ter claro os fundamentos da missão. Uma palavra hoje muito usada. Chega-se dizer que tudo é missão.

Toda obra, antes de ser construída, necessita de planejamento. A construção começa pelos alicerces e fundamentos que garantem a sustentação do prédio. Na missão, não é diferente. Precisamos deixar claro os fundamentos da única missão que é de Deus.

A concepção de missão está muitas vezes reduzida a fazer coisas, elaborar esquemas, projetos, cursos, visitas, experiências, simpósios e congressos. Isto define-se como missão programática.

A missão ao longo da história foi delegada a congregações e grupos com carisma missionário. Foi perdendo-se a noção de missão como identidade, essência, natureza de todo povo de Deus. Alguns ainda tem a concepção, de que missionários (as) são somente aqueles que partem para outra nação.

CONCEITO DE MISSÃO:

Na sua origem, a palavra “missão” significa “envio”, “partir”, “sair”.

O termo latino, missio quer dizer também “libertar”, “deixar andar”, “soltar”: o envio “tem tudo a ver” com liberdade e libertação.

O Concílio Vaticano II recuperou a concepção teológica sobre a natureza da missão.

MISSIO DEI:

Essa visão se fundamenta, no conceito de missão que tem sua origem no “amor fontal” do Pai, um amor que sai de si por sua própria natureza para chegar a todos (AG,2).

A Missão, portanto, é uma só. Ela é de Deus, nasce no coração da Trindade. Deus é missão. O amor de Deus é um amor que não se contém, que transborda, que se comunica, expande, dilata, irradia, difunde e sai de si.

O próprio Deus se auto envia pela missão do Filho e do Espírito. O Filho é enviado pelo Pai na força do Espírito Santo.

Impulso de dentro para fora:

A origem de todo movimento missionário está no coração da Trindade. O amor de Deus Pai não se contém e se comunica. Deus é missão e a missão vem de Deus porque Deus é amor. Missão diz respeito ao que Deus é e não, primeiramente, ao que Deus faz. A missão revela a essência de Deus de se comunicar e de criar relação. Por isso, a missão não teria, a princípio, um seu porquê, não surgiria primeiramente de uma necessidade histórica, mas é um impulso gratuito, de dentro para fora, e de um jeito de ser que têm como origem e fim a vida divina (cf. DAp 348).

A SAÍDA DE DEUS:

Deus é o primeiro a sair de si mesmo para libertar, salvar, curar…

“Ele viu a opressão do povo no Egito, escutou seus clamores e sofrimentos e desceu para libertá-los das mãos dos Egípcios e levá-los para uma terra boa e vasta, onde emanam leite e mel (Ex 3, 7-8).

CONCEPÇÃO ECLESIOLÓGICA E MISSILÓGICA

“A Igreja não possui uma missão, mas a missão possui a Igreja” (Diálogos proféticos, Stephen Bevans e Roger Schroeder, p.34).

Missão é a própria essência de Deus que tem uma Igreja vocacionada a ser testemunha de Cristo no mundo e na história, até os confins da terra e o final dos tempos. “A ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja” (EG 15).

Como a missão nasce em nós?

ENCONTRO

A missão começa com a escuta da voz de Deus. “Ouvir o que diz o Espírito as Igrejas”.

Encontro com Jesus Cristo. É um encontro que dá novo horizonte à vida.

É um encontro apaixonante que se expande. O documento de Aparecida fala de dez lugares de encontro (246-258).

“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp, 29).

Missão a partir de Jesus Cristo

Cristo, luz para os povos (LG,1).

O momento atual é oportuno de propor uma direção, referência, um sentido para vida das pessoas que é Jesus Cristo. Há uma crise de sentido. A fé Nele tem implicações práticas, ou seja, irradiar fé, bondade, misericórdia, compreensão.

A evangelização não é feita somente por palavras, sobretudo pelo testemunho de vida. Ir. Carlos é um modelo de missão testemunhal. Missão pela simples presença, gratuidade e bondade.

PAIXÃO

“Missão é paixão por Jesus Cristo e simultaneamente paixão pelo seu povo” (Evangelii Gaudium, 268).

Sem esta paixão a missão fica reduzida a fazer muitas coisas, andando de um lado para o outro, sem mística e sem ardor. Missão é pois, questão de paixão e identidade cristã.

Qual objetivo da ação missionária?

Transmitir a fé está no coração da missão da Igreja. “A Igreja existe para evangelizar”.

A Igreja é continuadora da missão de Jesus.

Proclamar e anunciar a boa notícia de Deus.

A Igreja deve estar a serviço da implantação do Reino de Deus. Ela não é fim, é meio, instrumento, sinal de salvação.

Salvar, curar, libertar…

Na missão, a salvação está em primeiro lugar, o jurídico, institucional e doutrinal devem estar a serviço da salvação.

Assumir o jeito de viver de Jesus Cristo. “Jesus Cristo, passou por este mundo fazendo o bem (At10,38). A vida e o testemunho são mais importantes do que a teoria.

Para missionar é fundamental experimentar a ação de Deus em nós.

A missão se propaga por contágio pessoal. “A fé cresce por atração” (Bento XVI).

MENOS E MAIS.

“ Zero burocracia e menos administração. Mais paixão, mais amor e mais anúncio do Evangelho” (Papa Francisco, reunião dos diretores das POM em Roma, junho de 2017).

Jesus convocou o grupo dos doze para que primeiro permanecesse com Ele e depois os enviou a pregar (Cfe. Mc 3,14). A primeira tarefa do missionário (a) é permanecer com Ele para deixar-se conformar pela Sua identidade. Deste encontro, nasce a missão que não tem fronteiras.

ESPÍRITO SANTO É O PROTAGONISTA

Missão é pois, uma questão de fé, de abandono a Deus. Por isso, a primeira obra é rezar pelas missões. O protagonista é o Espírito Santo. Somos Cooperadores (as) da missão de Deus.

COOPERAÇÃO MISSIONÁRIA

Se na missão toda iniciativa é Deus. Qual a nossa parte?

Deus quis precisar de nós para a missão que é Dele. Necessita de nossa colaboração, de nosso sim, de nossos pés, mãos, olhos, ouvidos, de nossa proximidade com Seus filhos (as).

Está continuamente chamando colaboradores (as).

Eu sou uma missão…

O papa Francisco tem falado da dimensão existencial da missão: “Eu sou uma missão de Deus nesta terra, e para isso estou neste mundo” (Evangelli Gaudium, 273). A vida se torna uma missão. Ser missionário (a) está além de cumprir tarefas ou fazer muitas coisas. Está na ordem do ser. É existencial, identidade, essência e não se reduz a algumas horas do dia. Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate o papa chega afirmar: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão” (27). A missão nos tem.

O movimento da saída: a proximidade

Qual motivo teríamos para sairmos de nós mesmos, de nossa comunidade, de nossa terra, se não tivéssemos algo que nos impele a fazer isso?

1. Poderíamos sair atraídos pelo encanto com o desconhecido ou pela curiosidade de visitar outros lugares, encontrar outras pessoas e culturas diferentes: então, faríamos turismo, ou algo parecido, como intercâmbio, negócios, pesquisas, etc.

2. Poderíamos sair com o desejo de conquista, querendo expandir nossa organização, nosso mundo, explorando o mundo dos outros segundo a nossa visão e as nossas necessidades: então, isso seria colonização.

3. Poderíamos sair para fugir de nossa realidade e de nós mesmos, buscando inspiração ou uma realização pessoal em outros lugares: se tirarmos o caso dos migrantes e dos refugiados que fogem para sobreviver, poderíamos dizer que essa saída teria ainda como razão de fundo um desejo pessoal.

IGREJA EM SAÍDA

No caso da Igreja, a motivação de seu sair não está em si mesma. Ao contrário, trata-se de um “movimento de saída de si mesma” (EG, 97). “O discípulo-missionário é um descentrado – diz Papa Francisco – o seu centro é Jesus Cristo, que convoca e envia”. Aqui está o permanente discernimento e a atitude penitencial da “Igreja em saída”, pois ela, ao sair, poderia estar colocando ao centro a si mesma. “Quando a Igreja se erige em ‘centro’, se funcionaliza, torna-se cada vez mais auto referencial e enfraquece a sua necessidade de ser missionária”. ( Discurso do papa Francisco JMJ, 28 de julho de 2013).

Portanto, o motivo do sair da Igreja é exclusivamente Jesus que envia e Jesus que é a razão do enviar. Com efeito, a missão é um mandato: somos enviados não porque queremos, mas porque somos desafiados por Alguém a tomar iniciativa (cf. EG 24). Em segundo lugar, somos enviados porque o Evangelho, por ser uma “Boa Notícia”, tem em si um conteúdo avassalador em seu dinamismo de “saída” (cf. EG 20).

Portanto, a Igreja é chamada a estar “em saída” como o seu Senhor que “sabe ir à frente, sabe tomar iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos” (EG, 24).

Este é o tempo para a Igreja reencontrar o sentido de sua missão, libertar-se das amarras que a impedem de “sair”, de ser uma Igreja em saída.

É com este objetivo que o Papa Francisco convoca a Igreja a “sair”, assumir a dinâmica do “êxodo”.

EM MOVIMENTO DE SAÍDA

A Igreja não é feita para ficar apenas constituída em suas instituições, em seus assentos e em suas estruturas: ela existe para estar em movimento e se lançar ao mundo.

Essa é sua natureza:

sua razão de ser está em “sair”.

O QUE NOS IMPEDE DE SAIR?

Duas realidades paralisam a Igreja na sua missionariedade:

→a tentação de ficar no “centro”.

→ a preocupação com “querer ser o centro”. Tentação da auto-referencialidade.

“Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede…(Evangelii Gaudium, 20).

Discernimento para sair

O horizonte existencial da Igreja em saída são as periferias. O horizonte escatológico é o Reino de Deus. Iluminados pela alegria do Evangelho, cada comunidade deverá discernir quais periferias geográficas e existenciais precisam de uma atenção especial e da luz do Evangelho.

Essa saída, porém, não pode esquecer

da missão ad gentes, além-fronteiras.

Sair de que maneira?

A saída da qual fala o documento Evangelii Gaudium, é uma saída profunda, que toca as dimensões mais íntimas da vida dos discípulos missionários e da Igreja. Não é sair simplesmente para impor a nossa vontade e a nossa visão de mundo, querendo “organizar” o mundo dos outros.

Isso não é missão, é colonização.

A saída exige permanecer…

Para sair é preciso permanecer ligado Àquele que nos envia. Ao essencial, a Jesus e seu Evangelho. A saída é uma viagem para fora e para dentro de nós mesmos. Ao sair também encontramos Deus na carne sofredora de Cristo.

Somos uma Igreja em saída e somos uma Igreja que volta da missão para testemunhar a alegria do Evangelho.

O movimento de entrada: o encontro

O processo de saída implica um processo de entrada:

Entramos na casa do outro como hóspedes para encontrar. Este movimento demanda Kenósis, despojamento.

Entrar como hóspede é assumir a condição de peregrino e de estrangeiro que nos proporciona o dom inestimável do outro, sua experiência.

Exige espírito de adaptação, capacidade de comunicação, disciplina na inserção, paciência na travessia, generosidade na entrega, grande sensibilidade e paixão pelo povo que nos acolhe.

ÂMBITOS DA MISSÃO

A Igreja existe para cooperar com a missão de Deus (cf. 1Cor 3,9; EG 12).

a. Pastoral – comunidades (em casa).

b. Nova Evangelização – sociedade (fora de casa).

c. Missão ad gentes – sem fronteiras (na casa do outro). Horizonte maior para entender os outros âmbitos que são interconexos e interligados.

Missão Ad Gentes

“A transmissão da fé, coração da missão da Igreja, realiza-se pelo “contágio” do amor, em que a alegria e o entusiasmo expressam o descobrimento do sentido e da plenitude da vida. A propagação da fé por atração requer corações abertos, expandidos pelo amor. Não se pode colocar limites ao amor: forte como a morte é o amor (cf. Ct 8, 6). E tal expansão gera o encontro, o testemunho, o anúncio; gera a partilha na caridade com todos aqueles que estão longe da fé e se mostram indiferentes, às vezes contrários a ela”… Ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e a presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os “últimos confins da terra”, para onde, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na certeza de terem sempre o seu Senhor com eles (cf. Mt 28, 20; At 1, 8). Isso é o que chamamos de missio ad gentes” (Discurso do Papa Francisco no Dia Mundial da Missões, 2018).

O que é Missão Ad Gentes?

Entre aqueles que não conhecem Jesus Cristo no meio de outros povos e sociedades. Missão na casa do outro. A cooperação missionária diz respeito à missão ad gentes, a todos os povos.

A participação de cada Igreja local na missão universal, com os outros povos e com as outras igrejas.

Além do aspecto territorial e geográfico, se reflete hoje, o novo ambiente cultural indiferente ao Evangelho.

Missão Ad Gentes – desvios.

A missio ad gentes foi e é marcada pela mentalidade colonial, ou seja, há um certo complexo de superioridade em relação a outros povos, culturas, tradições, estilos de vida. O outro compreendido como destinatário e não como sujeito. É uma mentalidade marcada de fazer missão para e não com os outros. Alguns verbos que traduzem este movimento colonizador é ensinar, conquistar, levar, implantar, construir. Nesta mentalidade se desconsidera o trabalho realizado por outras pessoas que chegaram antes de nós. A missão evangelizadora não tem início com minha chegada.

Este modo de pensar a missão, não difere dos projetos coloniais que desprezaram as culturas locais para implantar uma nova mentalidade. A resistência a missio ad gentes que muitos agentes pastorais têm, passa pela compreensão da missão na perspectiva colonizadora. Ainda hoje, os missionários (as) chegam com o Kit pronto, vinculando a missão ao conceito de desenvolvimento, progresso e transplante da Igreja em outra cultura. Se fala mais do que se escuta não valorizando o outro como interlocutor. Cremos ou não no protagonismo do Espírito Santo que nos antecipa na missão?

Charles de Foucauld

É fundamental não abandonarmos o critério missionário da encarnação num mundo cada vez mais plural. Na mentalidade colonizadora se despreza as línguas locais, as tradições e os planos pastorais das Igrejas locais.

Na fraternidade temos o exemplo do beato Charles de Foucauld que soube respeitar e aprender a língua e tradições locais, exercendo o ministério da bondade e da simples presença gratuita.

Pe. Maurício da Silva Jardim
Brasil

PDF: A missionaridade do presbítero diocesano. Mauricio da SILVA JARDIM