O Quinto Evangelho. José Inácio do VALE

O coração do deserto de Judá para os cristão é Nazaré, Chamada também por São Jerônimo como a Flor da Galileia. Devido a sua importância para os cristãos, a cidade situada em um vale no sudeste da Galileia, a 157 quilômetros ao norte de Jerusalém, é o lugar onde, segundo a tradição cristã, o arcanjo Gabriel anunciou a Maria que ela seria a mãe de Jesus. “No sexto mês, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da família de Davi. A virgem se chamava Maria” (Lc 1,26-27). E é também nesta cidade que, segundo o texto bíblico do evangelista Lucas, Jesus passa sua infância, adolescência e juventude, e inicia a vida pública.

Na pequena Nazaré tudo começa. “Jesus se encarnou aqui para o mundo. Estar na terra santa significa reviver fisicamente: ver a terra e as cores, sentir os paladares e aromas que também foram sentidos por Jesus”, destaca o frade capuchinho Pierbattista Pizzaballa, custódio da Terra Santa.

A Terra Santa para os cristãos é também chamada de quinto Evangelho ou o oitavo sacramento, porque é o lugar onde fisicamente nos encontramos com a experiência de Jesus Cristo. Vir à Terra Santa significa sentir a mesma experiência da revelação e tocar com as nossas próprias mãos o evento da revelação tão significativo para todos nós. E também uma experiência cultural, porque é o único pais onde coexistem as três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), com suas diversas culturas. É uma experiência única recomendada a todos os fiéis”, enfatiza frei Pierbattista Pizzaballa.

NAZARÉ HOJE

Localizada sobre uma colina a 350 metros em relação ao Mar Mediterrâneo, Nazaré é rodeada por outros montes mais altos. Ao sul da cidade está a planície de Esdrelon, que fica na parte sul da Baixa Galileia.

Hoje a cidade possui cerca de 71.500 habitantes: 25 mil árabes muçulmanos, 22.500 árabes cristãos e 24 mil hebreus. É a comunidade árabe mais importante de Israel depois de Jerusalém. Muçulmanos e cristãos vivem em um bairro situado em uma parte alta conhecida como Nazaré Illit.

IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD E NAZARÉ

“Deixemos que ele viva em nós, que prossiga em nós sua vida de Nazaré. Deixemos que ele continue em nos sua vida de universal caridade. Que nós possamos dizer a todo momento de nossa vida: “vivo, mas já não sou mais eu quem vive, é Jesus que vive em mim” (Charles de Foucauld, In: antologia p. 464).

“A encarnação tem sua fonte na bondade de Deus… mas o que logo aparece de maravilhoso é que ela brilha como um sinal ofuscante… “É a humildade infinita que contem semelhante mistério” (Retiro em Nazaré, novembro de 1897).

O Irmão Carlos é alguém que precisa sempre expressar na vida o que descobre e o que sente. A partir desse momento, seguir Jesus e viver somente para Deus será algo extremamente concreto para ele: nessa aldeiazinha Jesus viveu durante trinta anos. Segui-lo será, portanto partilhar concretamente a mesma vida e viver somente para Deus. Será escolher esta vida escondida em Nazaré, numa condição de pobre…

A vida toda do Irmão Carlos foi marcada por uma grande docilidade ao Espírito Santo: “Vamos deixar que a graça nos conduza… Vamos deixar que o Espírito Santo nos dirija e só tomemos as rédeas de nossa oração quando ele as colocar em nossas mãos”, disse o irmão Carlos.

O Irmão Carlos rezava fielmente, três vezes ao dia e muitas vezes no meio da noite, o hino: “Vinde, Espírito Criador”, oração que nos legou. É um meio muito simples, mas que não devemos abandonar.

Sete anos depois de sua conversão, quando deixa a trapa para ir enfim ao encontro de Jesus no caminho de Nazaré, ele escreve: “Minha vocação é descer”. E, no fim da vida, comentando uma frase do Evangelho: “ele desceu com eles para Nazaré”, escreve novamente: “A vida toda, ele só fez descer. Descer encarnando-se. Descer fazendo-se criancinha, descer obedecendo, descer tornando-se pobre, abandonado, perseguido, torturado, colocando-se sempre no último lugar”.

É muito importante descobrir através do Evangelho a humildade de Deus, d’Aquele que vem a nós na pessoa de Jesus de Nazaré, aquele que desce:

– Em Belém, como uma criancinha sem defesa e um pobre sem abrigo.
– Em Nazaré, durante trinta anos, o tempo necessário para formar, com todas as suas reações, um homem simples e pobre, um homem dessa aldeia de onde não podia sair nada de bom (Mt 2,23-13, 54 a 58 – Jo 1,46).
– No Jordão, para ser batizado, colocando-se no meio dos pecadores, apesar dos protestos de João Batista (Mt 3,13-16).
– No deserto, para ser tentado: tentação de tomar um outro caminho, de não ser o servo (Mt 4,1-11).
– À mesa de Zaqueu e à de Levi, ainda com os publicanos e pecadores (Mt 9, 9-13 – Lc 19,1-10).
– Aos pés dos discípulos, num gesto de escravo, quando chega sua hora (Jo 13,1-20).
– No meio dos condenados e excluídos nas trevas de Getsêmani e do Gólgota (Mt 26,36-46 – 27,32-52) etc.

É preciso que cada uma faça desses textos algo seu… Não se trata somente de Lê-los, é preciso guardá-los no coração. É preciso chegar à convicção de que o amor se torna pequeno diante daqueles a quem ama. É assim que ao buscar os fundamentos da oração, somos sempre reconduzidos ao espírito de infância.

Não há dúvida que o choque data desse tempo, pois sete anos mais tarde escreverá: “Tenho sede de levar, enfim, a vida que procuro há sete anos, a vida que entrevi, adivinhei, andando nas ruas de Nazaré, ruas que os pés de Nosso Senhor percorreram, como um artesão pobre, perdido na abjeção e na obscuridade”.

“É muito importante situar bem esta instituição fundamental do irmão Carlos porque, se nós estamos na Fraternidade, é porque de alguma maneira fomos seduzidos por Deus na pessoa de Jesus de Nazaré”, escreve a irmãzinha Annie de Jesus durante uma sessão de formação para as irmãzinhas de Jesus.

Toda a vida do Irmão Carlos foi dominada pelo desejo apaixonado de imitar Jesus de Nazaré e de segui-lo em seu caminho de servo, até o fim.

Escreve ele: “Nosso aniquilamento é o meio mais perfeito que temos de unir-nos a Jesus e de fazer o bem…” (Carta a Marie de Bondy, 1º de dezembro de 1916).

Na dimensão do amor de Deus, na caridade com o próximo e na fidelidade do santo Evangelho de Cristo, somos também o Quinto Evangelho!

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal JesusCaritas
Bem-aventurado Charles de Foucauld
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

Fontes:

(1) Revista Família Cristã, dezembro de 2013, p. 67.
(2) Irmãzinha Annie de Jesus, In. Caminhando na oração… Com o irmão Carlos de Jesus, s/d.

Silêncio amoroso. José Inácio do VALE

“O falar é de prata, o silêncio é de ouro”.

“Na procura de conhecimentos, o primeiro passo é o silêncio, o segundo ouvir, o terceiro relembrar, o quarto praticar e o quinto ensinar aos outros” – (Textos Judaicos).

Vivemos no mundo dominado pelo barulho, pela falação, pela comunicação ditatorial, pela imagem com o áudio invasor determinante. A poluição sonora é patologizante!

Constantemente estamos sendo bombardeados com a zoada do alto-falante, buzinas, motores dos veículos, das redes sociais, televisores, celulares, tabletes, rádios e vários outros dispositivos que nos mantêm conectados, é imprescindível que se faça uma pausa para desfrutar um pouco do sagrado silêncio. Procure um lugar agradável e silencioso, recarregue-se, redescubra seus pensamentos, encontre-se no silêncio, mergulhe abissalmente no seu interior.

Seja um amante na escuta do silêncio, um praticante da meditação e aberto para potencialidade transcendental. Ao meditar pode evitar tomar decisões com as quais não se sente confortável, resolver dilemas que o incomodam há algum tempo e ainda a conhecer-se melhor. Se está ciente de seus pensamentos e de sua fonte psicológica, é mais provável que resolva seus problemas com mais facilidade e traga grande claridade emocional à sua vida com abundância de paz, serenidade e felicidade.

A meditação e a oração propiciam redefinição de diversas opções, ajuda a pessoa a se tornar mais consciente, sábia do que está fazendo e a melhorar e aprimorar sua experiência profunda de vida. O silêncio é libertador, curativo e de uma terapia imensurável.

Maria de Nazaré

No Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, São Luís de Montfort nos leva a Nazaré a encontrar uma jovenzinha escondida. Não com medo, mas reservada, silenciosa, delicada e simples. Era Maria. O silêncio dela era do agrado de Deus e pela sua humildade foi escolhida para tão perfeita missão: mãe de Jesus Cristo. Pelo sagrado silêncio da Virgem Maria, foi gerado o Verbo encarnado. Aquele que passou maior parte de sua vida em silêncio. Seu pai era o varão justo do silêncio. São José é um exemplo de silenciosa dedicação ao projeto de Deus. É o homem de uma grande nobreza de alma que, no santo silêncio de amor e de fé, recebe o mistério que está além da sua capacidade, no entanto, acolhe na confiança da sua crença silenciosa a vontade de Deus. A Sagrada Família é o maior exemplo da espiritualidade do silêncio.

O encontro com Deus no silêncio, é o encontro do diálogo e da escuta pelo coração. O coração fala e escuta pela dimensão do amor. Essa é a verbalização de Deus. A vivência do silêncio é de uma profundidade espiritual de unificação amorosa.

Santo Inácio de Antioquia afirma que Cristo é “a Palavra que procede do silêncio”. O bom Deus que se revela no silêncio e na palavra, solicita a escuta do homem e para a escuta é essencial o sagrado silêncio.

Conclusão

O silêncio é um espaço sagrado, enriquecedor, poderoso, iluminador, onde permanecemos no relacionamento com Deus, atentos a Ele. É um silêncio contemplativo, em que contemplamos Sua ação amorosa em nossas vidas e permanecemos a escutá-Lo. Nesse silêncio de intimidade, nós nos entretemos com a Sua Palavra. O silêncio é de suma importância para receber sabedoria numa modalidade única, experiência mística e intensa intimidade com Deus e o crescimento na comunhão com Ele.

Frei Inácio José do Vale, FCF
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas
Do Bem-aventurado Charles de Foucauld

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