Pedro CASALDÁLIGA: Natal 2015. Ano Novo 2016.

«Não podemos dormir a Noite Santa,
não a podemos dormir”»
É assim que reza a cantiga de natal.
A Liturgia reza assim:
Nasceu-nos um Filho,
foi-nos dada uma criança
para ajudá-la a crescer
até a plenitude.
Um Menino que vem das profundezas do Mistério.
Para que saibamos acolher a toda criatura.
Para que saibamos que todos pertencemos
à grande família amada de Deus.
É Natal. É tempo novo.
Chega pequeno, em uma impotência total como os «Aylan» do Reino.
Para que nossa opção continue sendo pelos pobres da terra.
A Igreja deveria renovar no Natal seu compromiso
de viver a encarnação do Verbo dia a dia.
É Natal. É tempo novo.
Não podemos dormir a Noite Santa.
Devemos acordar para acolher os pobres da terra,
os pequenos do Reino.
Devemos viver, cada dia, a Noite Santa do Reino.

Pedro Casaldáliga

Natal 2015 Ano Novo 2016

Carta de Perín, outubro 2015

CARTA DE PERÍN
EQUIPE INTERNACIONAL
FRATERNIDADE SACERDOTAL JESUS CARITAS

Perín, Espanha, outubro 2015

Queridos irmãos,

perin2015-01Emmanuel, Jean-François, Félix, Mark, Maurício e Aurélio vivemos nosso encontro anual em Perín, Cartagena, Espanha, na casa de Aurélio, celebrando seu aniversário de 60 anos. Com o olhar em vocês, em todos os irmãos das fraternidades e vivendo entre as pessoas que nos acolheram e animaram, compartilhamos nossa alegria de estar juntos e trabalhar unidos, como um presente do Senhor. As pessoas nos aeroportos de Alicante e Murcia nos viram chegar com alegria e distribuindo abraços de se reencontrar como família.

O QUE VIVEMOS?

perin2015-02Desde a oração comum das Laudes, a adoração e a Eucaristia, acompanhados pela chuva do outono, nos sentimos fortalecidos pela oração de vocês, pela interceção do beato Carlos de FOUCAULD e pelo testemunho profético do papa Francisco no Sínodo da família que acompanhamos de perto.

perin2015-03Tivemos um encontro com o bispo de Cartagena, José Manuel LORCA PLANES e também um almoço com a familia de Carlos de Foucauld de Murcia, acolhidos pela fraternidade secular e as imazinhas de Jesus, -tendo a presença da irmã Anita, conselheira da equipe de Tre Fontane em Roma- e a fraternidadesacerdotal. Assim nos sentimos em comunhão eclesial e unidos perin2015-04com o carisma do irmão Carlos que é para nós um homem de Deus e nos chama ao centenário de sua Páscoa coincidindo com o Ano da Misericórdia, convocado pelo papa Francisco. Tudo isto nos diz de um intinerário de conversão ao diálogo, não apenas entre nós, mas também ao presbitério diocesano ao qual pertencemos e a um diálogo com pessoas de outras religiões e não crentes. É um apelo à conversão recíproca e ao respeito mútuo. Queremos dialogar e não impor nossa opinião. Desde Viviers surge esta convicção importante de nosso Carisma.

perin2015-05Nos relacionamos e celebramos com muita gente de Perín. Gente amável, próxima e cordial. Aprendemos de suas experiências familiares da vida cotidiana, numa atitude de escuta como irmãos e irmãs. Nos impressionou as eucaristias nas duas residências de idosos em Perín. Eles são na sociedade Européia e Ocidental os grandes excluídos da cultura do descartável. Suas vidas nos comunicaram que Deus está presente em todas etapas da existência: crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Neste Nazaré não há prazo de validade.

perin2015-06Vimos de perto os projetos da Fundação Tienda Asilo de San Pedro de Cartagena, onde trabalha Aurélio. Tivemos um contato próximo com as pessoas que atuam nesta obra e também a equipe de voluntários e pessoas atendidas em suas necessidades. Esta simplicidade de Nazaré nos possibilitou estar com pessoas portadoras de soro positivo, dependentes químicos em recuperação, encarcerádos e moradores de rua, marcados pela exclusão social. No entanto agora podem viver dignamente e recuperar uma parte de sua vida e saúde. Vivem como uma grande família que assume as consequências quando a vida é um problema. Sentimos que nos querem bem, mesmo sem nos conhecerem.

QUAIS APELOS RECEBEMOS?

perin2015-07São muitos os apelos recebidos: o principal é viver o centenário do irmão Carlos não como memorial do passado e sim como celebração que atualiza a mensagem da fraternidade universal. O papa Francisco tem citado várias vezes o testemunho do Ir.Carlos de Foucauld: em Laudato Si (n.125) o apresenta como exemplo evangelizador; na vigília do sínodo da família como inspirador e modelo da família de Nazaré. Suas constantes referências ao Ir.Carlos nos enchem de alegria. Podemos afirmar que nossa comunhão com o magistéio do papa Francisco é cem por cento.

perin2015-08Também intuimos o apelo de aprofundar o mistério de Nazaré com atitude que une contemplação, proximidade com os pobres e experiência de nossa fragilidade como lugar de acolhida ao poder do crucificado-ressuscitado. Somos chamados a viver a fraternidade universal de modo real, sem fazer teorias sobre a vida e as pessoas.

Outro apelo é dar prioridade ao dia de deserto, pois constatamos que o deserto mensal é difícil para nós presbíteros absorvidos pela lógica do ativismo pastoral e da eficácia, como funcionários do sagrado. Assim deixamos o deserto para outro dia, o que deriva um mau hábito. Sempre pensamos em fazer, fazer e fazer, mas pouco em escutar e deixar-se encontrar pelo Senhor.

perin2015-09Sentimos o apelo de estar e ir as ´periferias geográficas e existênciais´ tendo contato com situações de fragilidade humana. Nao podemos negar nossa vocação de ministros ordenados, chamados a anunciar a boa notícia, não como laboratório pastoral ou turismo espiritual e sim para estar com os últimos. Desde Nazaré, o Senhor Jesus nos convida a ser seu vizinho com seu problema de saúde, de solidariedade e de pobreza. Ele viveu num povo pobre, oprimido e esquecido. Se não estamos com os pobres não sabemos o que nos quer comunicar Jesus. Fizemos também uma releitura da Laudato Si e Misericordiae Vultus (n.15).

perin2015-10Seguindo, sentimos um apelo a conversão renovando nosso conceito de misericórdia: ser testemunho do amor de Deus. Recordamos um texto bíblico tão caro ao Ir.Carlos: “Basta-te minha graça. A força se realiza na fraqueza” (2Cor12,9).

O QUE ESTUDAMOS E PLANEJAMOS…

perin2015-11Partilhamos sobre a próxima Assembleia Panamericana em Cuernavaca, México, de 15 a 20 de fevereiro de 2016: participarão as regiões de Québec-Acadie, Estados Unidos, México, República Dominicana, Brasil, Argentina e Chile, também um representante da fraternidade que está se formando no Haiti e outro irmão de Guatemala. Todos irão se encontrar pela primeira vez fora da assembleia mundial. Destacamos positivamente o trabalho de coordenação de Fernando TAPIA, responsavel do Chile. Ele tem recebido as respostas de todos questionários preparados pelas regiões. Desde já agradecemos a acolhida dos irmãos Mexicanos. Devido ao controle do governo não conseguimos comunicar com os sete irmãos de Cuba, que junto aos irmãos de Jesus formam uma fraternidade.

A próxima assembleia da Ásia será em Filipinas, em julho de 2016: Arthur, responsavel da Asia, está já trabalhando com os irmãos de lá. No mês de Nazaré em Myanmar em julho passado, foi possivel o contato com muitos irmãos da Asia. Isto possibitou reforçar os vínculos de pertença a fraternidade. Há fraternidades como Malasia, Indonesia e Austrália que temos poucas notícias. Ao Arthur pedimos, como responsável, que procure comunicação com estes irmãos.

perin2015-12Bastante tempo dedicamos ao estudo da nossa próxima assembleia internacional, de 15 a 30 de janeiro de 2019 em Bangalore, India. Temos três anos para definir objetivos, metodologia e conteúdos.

Expressamos nossa prece e preocupação com a saúde de alguns irmãos muito queridos: Michel PINCHON, Giuseppe COLAVERO, Tony PHILPOT, Howard CALKINS… Nos sentimos em comunhão com eles, sobretudo em seus momentos difíceis. Que não falte nossa oração e carinho.

Mark nos fez um resumo da economia da fraternidade internacional que enviará a todos responsáveis regionais. Pensamos que é necessário que todas regiões contribuam com dez por cento de suas arregadações para o caixa internacional, inclusive os países onde a contribuição é baixa. Também algumas regiões ocidentais poderiam revisar seus critérios de partilha, pois as necessidades são muitas. “Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar e tão rico que não tenha nada para receber”.

perin2015-13Uma boa notícia para nossa Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas é o reconhecimento de direito pontifício da Congregação do Clero de nossos estatutos.

Recordamos a todos nosso meio de comunicação que é fácil e rápido e está a serviço de todas fraternidades: www.jesuscaritas.org.

Como equipe internacional e como fraternidade de seis irmãos de quatro continentes, gratidão a todos: pela oração, pela partilha financeira, por termos um lugar no coração de vocês e em suas casas, nesta missão de expandir o Reino de Deus, a Boa notícia, a alegria de sermos cristãos e de olharmos uns aos outros com os olhos de Jesús.

Em Perín, Espanha, vivemos cada dia pensando em vocês e nas realidades de seus países que às vezes é dura e difícil; valorizamos mais as pessoas que suas capacidades; olhamos seus olhos, não seus óculos; buscamos agasalhar seus corações e não sua inteligência.

Obrigado.

Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo; Maria nossa mãe e Ir.Carlos os abençoe.

perin2015-14Um grande abraço dos irmãos Emmanuel, Jean-François, Félix, Maurício, Mark e Aurélio.

Perín, Cartagena, Murcia, Espanha, 28 de outubro, Festa de São Judas e São Simão, apóstolos do Senhor.

PDF: Carta de Perín, eq.res.fraternidade 28outubro2015 PORT

Experiência de Deus na vida de Charles de Foucauld (Inácio José do Vale)

20151015_170245Esvaziemos o nosso coração de tudo o que não for o objetivo único… Que nada além de Deus seja o nosso tesouro. Que o nosso único tesouro seja Deus, o que o nosso coração seja todo de Deus em Deus, todo para Deu… Só para ele. Fiquemos vazios de tudo… Para nos podermos encher completamente de Deus…”.

Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916)
Padre francês e eremita no deserto do Saara

A experiência de Deus na vida de Charles de Foucauld fez nele uma santa inquietação na busca profunda de ser todo de Cristo e de testemunhar até o fim do mundo o Evangelho do Reino de Deus. Todo o seu ser é ir, sempre ir ao encontro do Absoluto e do outro. O deserto ficou curto na busca do último lugar e sua obra o tornara maior do que seu escondimento. Em Charles de Foucauld há começo e não fim. Há espaço para conteúdos maravilhosos. Há lugar infinito para busca do Absoluto. Há campo para trabalhar a missão e a evangelização de amor universal. Há muita coisa para ser feita em sua espiritualidade para o bem das almas. Garimpar é preciso na sua mina mística, em seus escritos e na sua vida impactante! Sua fé, o fervor do Espírito Santo em sua jornada, sua atitude louca e apaixonada por Jesus desperta e provoca em espírito morno, em pessoas indecisas e sem rumo tomar uma posição radical. Tal decisão é ser todo de Deus por amor e pelo próximo para fazer um mundo de paz, de justiça, de vida plena e de caridade universal!

DESCRENÇA E INFELICIDADE

Charles de Foucauld de Eugene Pontbriand, de rica família aristocrática francesa, tinha um caráter duro, era inquieto, fervilhava de emoções e de fortes aventuras. Ele mesmo escreveu: “Passei doze anos inteiros sem fé alguma. Não acreditava mais em Deus, visto que não havia prova científica da existência de Deus”. No ano de 1876 ele entrou para a escola militar, de onde foi expulso, Com 19 anos de idade apresentou-se como voluntário ao exército e, enviado para o Saara, passou a viver de modo agitado e desregrado. Foi expulso do exército por “falta de disciplina e má conduta”. Isso no ano de 1881. Sua descrença, sua intransigência conectada a sua exacerbação causaram muitos transtornos e infelicidades.

Assim decidiu ir como explorador para o Marrocos. Ele labutou e arriscou a sua vida. Escreveu um livro científico sobre suas explorações, o que lhe conferiu uma medalha de ouro pela Sociedade Geográfica de Paris.

A CAMINHO DA CONVERSÃO

Lá longe, ele tinha uma prima, Madame de Bondy, que rezava por ele, para que começasse a pensar em sua alma e a mudar de vida. Ele ficou encantado, não somente com a beleza do deserto, mas também sacudido com a religiosidade do povo muçulmano, o qual demonstrava grande veneração por Deus, vendo o povo orando cinco vezes por dia. E certa vez confessou: “Esses oram cinco vezes por dia e eu, nem religião tenho.” Por isso partiu do fundo do coração a primeira lástima e a primeira oração: “Ó Deus meu, se existes, faze que eu chegue até conhecer”.

Charles, porque se dedicava às ciências, pensava que a fé se descobria por meio de provas científicas, ou mediante argumentos racionais ou perscrutando livros. Ele mesmo admitiu: “Eu devassei os livros da filosofia pagã e nada encontrei, senão o vazio e o tédio”. Depois, por acaso, veio às minhas mãos um livro cristão (Études sur les mysteres, do famoso pregador francês Jacques Bossuet) que me fora entregue por minha prima Maria Bondy, e nele encontrei a doçura e beleza que jamais descobrira antes. Esse era o primeiro livro que consegui ler antes da minha conversão, o que me mostrou que a religião cristã era a verdadeira!

ATRAÍDO PELA VIDA VIRTUOSA

Ele retornou para a França, e começou a ficar atraído pela vida da virtude. Ele presenciava os exemplos de extraordinária santidade de sua prima Madame de Bondy; porém ainda não tinha começado a crer em Deus, mas procurava frequentar a Igreja. Ele mesmo confessa: “Em princípios de outubro de 1886, senti a necessidade de solidão, de recolhimento, de leitura devocional a reflexão”. Começava a sentir necessidade de frequentar a Igreja, apesar de ainda sem muita fé. “Minha mente estava confusa, e vivia em estado de uma grande ansiedade: sempre buscando e buscando a verdade.” Entretanto, ele achava que a fé se descobria com o estudo ou pesquisando. Mas a fé é a submissão da própria vontade de Deus. E isso era uma verdade ainda por ele desconhecida.

A REVIRAVOLTA DE SUA VIDA

Sua vida conheceu uma virada para melhor, quando de seu encontro com o Padre Henri Huvelin, um sacerdote santo e sábio diretor de almas. Quando o viu, Charles sentiu em si algo que lhe dizia: “É necessário abaixar a cabeça e crer. É necessário crer.” Começou a sentir-se mais atraído pela Igreja. Certa vez a sua prima informou que o Padre Huvelin, por motivos de saúde, não ia continuar dando suas palestras costumeiras. Charles respondeu: “Mas que pena! Estava decidido a ir parar sua conferência. Tu, prima, gozas do grande privilégio de gozar da luz; enquanto eu estou em busca dessa luz e não encontro”.

SUA CONVERSÃO

O escritor francês René Bazin, em sua biografia: Charles de Foucauld – eremita e explorador, narra o encontro de Charles de Foucauld com o ínclito Padre Huvelin. Entre os dias 27 e 30 de outubro, o Padre Huvelin viu aproximar-se dele um jovem, o qual não se ajoelhou, mas esse jovem, um tanto cabisbaixo, disse ao sacerdote: “Senhor Padre, eu não tenho fé; vim para pedir que me desse algumas aulas.” O Padre Huvelin, que era especialista na direção espiritual, percebeu que aquele jovem tinha necessidade, primeiramente, de mudança de comportamento, e lhe disse: “Fica de joelhos, meu filho; agora confessa teus pecados a Deus, e terás fé.” Charles respondeu: “Mas não vim para isto.” O Padre Huvelin: “Meu filho, confessa teus pecados.” Charles, que queria crer, sem confessar, percebeu que a condição para poder crer era exatamente isso: submeter-se e abaixar a cabeça perante Deus. Charles se ajoelhou e fez uma confissão geral de toda sua vida.

Em seguida, o Padre perguntou ao penitente se estava em jejum (para a Eucaristia), e à resposta afirmativa de Charles, o sacerdote disse: “Então vai receber a comunhão”. Charles de Foucauld foi direto ao altar, e, pela segunda vez na vida, fez “sua primeira comunhão”, porque fazia anos que não a recebia. Cada vez que lembrava daquele dia, Charles agradecia a Deus e lhe dizia: “Foi bem naquele dia, ó meu Deus, que lançaste sobre mim teu olhar e me inundaste com tuas graças”.

MUDANÇA RADICAL E MORTE

Dali em diante, a vida de Charles mudou completamente. A graça de Deus fez nele milagres espantosos. Ele tomou a decisão: “do momento em que comecei a crer na existência de Deus, eu percebi que o único caminho que me restou era dedicar minha vida inteira a Ele”.

Desde então, optou por uma vida muito simples, dormindo no chão e orando diariamente durante muitas horas. Ele foi à peregrinação à Terra Santa, de novembro de 1888 até fevereiro de 1889. Em janeiro de 1890 entrou para vida monástica no mosteiro trapista de Norte Dame-des-Neiges. Em junho se transferiu para o mosteiro de Akbes, Síria. De lá o enviaram a estudar em Roma, em outubro de 1896. Porém três meses mais tarde saiu dos trapistas; seus pensamentos estavam voltados para os povos da África, que não conheciam Cristo. Foi a pé, como peregrino à Terra Santa, e depois voltou para a França, para estudar o sacerdócio. Foi ordenado sacerdote Viviers, em 9 de junho de 1901.

Regressou à Argélia e levou uma vida isolada do mundo, numa zona dos Tuaregues, mais próximos da população. Aprendeu a língua tuaregue e estudou o léxico e a gramática, os cantos e tradições dos povos do Deserto do Saara. Tinha a intenção de criar uma nova ordem religiosa, o que sucedeu apenas depois da sua morte: os Irmãozinhos de Jesus, fundado em 1933, pelo Padre René Voillaume. O “Irmão Universal”, como Charles ficou conhecido, foi assassinado no dia 1 de dezembro de 1916, em meio a uma revolta anti-francesa dos bérberes de Hogar na Argélia, em plena Primeira Guerra Mundial.

O renomado estudioso da vida de Charles de Foucauld, o irmãozinho Antoine Chatelard escreveu: “Sua conversão foi na verdade um encontro com Deus vivo, com um Deus próximo e amoroso. Esse Deus a quem ele suplicava que se manifestasse, revelou-se a ele em uma comunhão de amor. É um Deus que ama e a quem se deve amar. Esse Deus próximo fez-se carne e tem nome: Jesus. Toda espiritualidade de Charles de Foucauld centrar-se-ia na pessoa de Jesus, seu Deus, seu Senhor, seu Irmão, e depois, na linguagem dos místicos, seu Esposo bem-amado”.

CONCLUSÃO

Toda a vida de Charles de Foucauld pode ser resumida em duas palavras: “Jesus caridade” e “Jesus amor”. No confronto das incompatibilidades em sua jornada, o amor é a construção segura e unificada de sua alma caridosa e faminta de Deus. O caminho espiritual que ele delineou foi muito simples: “viver o amor de Jesus na imitação e na adoração”. Estas características transformaram o seu pensamento, suas decisões e suas ações.

“Não existe, creio eu, palavras do evangelho que tenha mais profunda impressão e transformado mais minha vida que aquela: tudo o que vocês façam a um destes pequeninos é a mim que vocês fazem”, escreveu quatro meses antes da sua morte a seu amigo Louis Massignon. No amor de Jesus, ele tornou-se uma testemunha forte e resoluta no anúncio do evangelho do Mestre de Nazaré.

De forma abissal Charles de Foucauld é uma inspiração para amar Jesus apaixonadamente! Sua espiritualidade é profundamente impactante que atua de forma renovada e reavivada nos corações tomados pelo amor de Deus, do amor ao próximo, pela Igreja, pela vida ativa e contemplativa e pela proclamação do Evangelho num testemunho vivo e eficaz!

Pe. Inácio José do Vale
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas
Irmãozinho da Visitação da Fraternidade de Charles de Foucauld

BIBLIOGRAFIA

  • Foucauld, Charles de. Meditações sobre o evangelho. Traduzindo de Nuno de Bragança. Lisboa: círculo do humanismo cristão, 1962, p.100.
  • Ciarlò, John. 50 conversões ao catolicismo. Selecionados e traduzidos por: Walter Michael Ebejer. Rio de Janeiro: Ed. Nossa Senhora da Paz, 2012, pp.53-55.
  • Chatelard, Antoine. Charles de Foucauld, o caminho rumo a Tamanrasset. Tradução de Marcelo Dias Almada. São Paulo: Paulinas 2009, p.57.
  • Bazin, René. Charles de Foucauld, explorateur au Maroc, ermite au Sahara. Paris: Plon, 1921, reeditado em 1954 e 1959.
  • Six, Jean-François. Charles de Foucauld: o irmãozinho de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2008.