É difícil, muito difícil e dificílimo festejar o Natal e Ano Novo com tantas desgraças ao nosso redor! Guerra na Síria, no Iraque, Afeganistão, terrorismo em várias partes do planeta, intolerância e fundamentalismo religioso, a vergonha da pobreza, a fome que assola muitas pessoas, desemprego, a infâmia das drogas, violência que amedronta a sociedade, assassinato, o abismo da corrupção política, doenças que deprimem e acabam com o relacionamento, a crescente destruição do matrimônio e os falsos irmãos e amigos que nos apunhalam pelas nossas costas. Quanta covardia e traição se fazem em nome de Deus, da fé e da religião!
Sendo o Natal uma Festa brilhantemente familiar, o Ano Novo festejar com parentes e amigos, no entanto, como ficam as famílias dos refugiados, dos aprisionados, dos que estão sem casa, sem emprego, sem comida e sem rumo, ou seja, quantas famílias excluídas? E aqueles que nem família tem!
E aqueles que se esbanjam e celebram essa Festa e outras com banquetes, muitos presentes, com muita gente, com muita ostentação, luxúria e muito mais…
São realizadas belíssimas celebrações natalinas e outras festas com espetacularização religiosa, junto com esse teatro são atuantes: a hipocrisia, a maldade, a descrença e o interesse financeiro.
Se fala tanto no espírito de Natal, no amor, ser solidário, nos presentes e doações. Fica claro que tudo isso é apenas por uns dias, o resto do tempo se vive no espírito do egoísmo e da ambição individualista. O consumismo dessa Festa é o retrato real do que se faz o ano inteiro, ou seja, gasto o que tem e até que o não tem, daí torna-se escavo das dívidas e de uma vida desequilibrada e perigosa.
Há tempo para mudar, refletir e sair desse sistema opressor, ou seja, dessa cultura mortal. Se ajudar em primeiro lugar, se libertar desse esquema diabólico e ajudar de fato e de verdade os outros.
Tomar consciência de tudo isso é ter a determinação via uma radical transformação religiosa e social. Entender que esse sistema social e religioso são fundamentos ideológicos para o capitalismo da Elite Dominante e seus controles. E para isso temos a poderosa palavra coragem e esperança, uma virtude muito realista, como afirmava o célebre poeta francês Charles Péguy no poema “Os portais do mistério da segunda virtude” (1911): “É esperar difícil/ à voz baixa e vergonhosamente./ E fácil é desesperar/ e é a grande tentação”. É verdade que é difícil ter firme a casa familiar, como dizia filósofo francês Michel de Montaigne nos seus Ensaios, porque “governar uma família é pouco menos difícil do que governar um reino”.
Ter coragem e esperança é ter fé e amor no Emanuel, ou seja, Deus que é amor e que caminha conosco numa construção familiar sadia, verdadeira, unida, que partilha pão, terra, paz, justiça, dignidade e o Evangelho de Cristo para comunhão aqui e a graça da vida eterna.
Coragem e esperança são atitudes de resistência e denúncia de todas as desgraças que existem ao nosso redor. Não se conformar com essas mazelas e fazer de tudo para sua extinção e trabalharmos por uma Festa para que todos participem, sejam felizes hoje e sempre.
Frei Inácio José do Vale
Professor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Irmãozinho da Fraternidade da Visitação de Charles de Foucauld
E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com