Querido Papa Francisco
A Diocese de São Gabriel da Cachoeira, situada ao noroeste do Estado do Amazonas, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, abarca a Bacia do Rio Negro e abrange uma extensão de 293.000 quilômetros quadrados. Congrega Povos Indígenas de vinte e três etnias. Ainda hoje falam dezoito línguas e constituem 95% da população.
O Povo Yanomami, de contato mais recente, concentra-se numa região que pertence à Venezuela, e no Brasil em Roraima e Santa Isabel do Rio Negro. Sua população total é estimada em mais de 33.000 pessoas repartidas em cerca de 640 aldeias, o que faz deles um dos maiores grupos ameríndios da Amazônia que conservam em larga medida seu modo de vida tradicional. Aproximadamente 10.000 vivem em Santa Isabel do Rio Negro e pertencem à Diocese de São Gabriel. Quase 5.000 vivem nas aldeias de Maturacá e Ariabu. Os missionários Salesianos de Dom Bosco convivem com eles desde 1950.
No dia 24 de maio de 2015, celebramos o centenário da chegada dos Salesianos (SDB) e das Salesianas (FMA) na Igreja do Rio Negro. O Exmo. e Revmo. Dom Giovanni D´Aniello, nosso estimado Núncio Apostólico, presidiu a concelebração. Uma delegação de cinco lideranças Yanomami solicitaram uma audiência com ele. Agradeceram a presença e a dedicação dos Salesianos que, além de evangelizar, cuidam também da saúde e da educação. Afirmaram que são visitados por pastores evangélicos, mas “os Yanomami desejam continuar católicos salesianos (sic)”. Disseram que a população é numerosa e a capela é muito pequena. “Por isso viemos pedir ao senhor que nos ajude a construir uma catedral”. O senhor Núncio mostrou-se muito sensibilizado e afirmou que solicitaria a colaboração do Papa Francisco. Quando um pedido é atendido, nossos irmãos Yanomami, logo fazem outro: “Quando a catedral estiver concluída, gostaríamos que o senhor nos enviasse também um bispo”.
Para levar a diante o projeto, a Comissão Episcopal para a Amazônia custeou a vigem do Pe Thiago Faccini e do Sr Tobias Machado, membros do Setor Espaço Litúrgico da CNBB, para visitar as aldeias de Ariabu e Maturacá. No final de julho acompanhei-os nesta visita. Numa roda de conversa com várias lideranças, indicaram o local as características do templo: deve ter a forma circular como os antigos “chaponos” – moradias comunitárias; possuir uma abertura no telhado para que os espíritos dos antepassados possam entrar para participar das orações comunitárias; ter anjos dependurados no telhado cujas asas devem possuir as penas dos pássaros; o altar deve estar no centro e confeccionado de pedra para ter longa durabilidade. Também indicaram o material da floresta que poderá ser utilizado e manifestaram a disposição de trabalhar em mutirão na construção.
Papa Francisco, através da prestimosa mediação do Sr Núncio, os irmãos do Espaço Litúrgico estão fazendo chegar às suas mãos o trabalho que conseguiram realizar. Espero que seja do seu agrado. E com sua generosa colaboração possamos ver um dia realizado o sonho dos irmãos Yanomami de Ariabu e Maturacá, para alegria deles e para a maior gloria do Pai de todos os povos, raças, línguas e culturas.
A isolada, pobre, indígena e pascal Igreja rionegrina reza sempre para que o Espírito Santo o ilumine, conduza e nos ajude a todos a construir a Igreja misericordiosa, de portas abertas, em saída para as periferias geográficas e existenciais. Gracias por nos ensinar que “a partir das periferias vêem-se as coisas melhor do que a partir do centro”.
Papa Francisco, reza por nós e também pelos outros Povos Indígenas que em várias regiões do Brasil têm suas terras invadidas, suas lideranças perseguidas e mortas e seus direitos negados pelos donos do agronegócio e pela política discriminatória do governo atual.
Grande abraço do tamanho da Amazônia e até o nosso próximo encontro, se Deus quiser.
+ Edson Tasquetto Damian
Bispo Diocesano
São Gabriel da Cachoeira, 01 novembro de 2016
Festa de Todos os Santos e Santas