Notícias de Edson Tasquetto DAMIAN

Caríssimo Dom Walter Ivan de Azevedo,
Estimados Padres, Irmãos e Irmãs da vida consagrada,
Seminaristas, Cristãos e Cristãs, membros do Povo Santo de Deus.

Só Deus sabe o quanto gostaria de estar com vocês, em nossa catedral, neste momento tão esperado da ordenação diaconal do Deliomar Anchieta Firmo Alves e do Geraldo Trindade Montenegro.

Com a perna esquerda engessada devido à fratura da tíbia, por recomendação médica em repouso em Manaus, não me foi possível chegar em tempo desta celebração.

Agradeço de coração ao querido Dom Walter que, providencialmente já havia aceitado o convite para realizar as ordenações. Este convite é também uma merecida gratidão pelos seus 90 anos, completados do dia 08 de maio, pelos 63 anos de ordenação presbiteral e mais de 20 anos como bispo de nossa Diocese. Nossa gratidão se estende igualmente a todos os missionários e missionárias de Dom Bosco, de ontem e de hoje, que há 101 anos doam suas vidas a serviço da evangelização e promoção dos Povos Indígenas e imigrantes do Rio Negro.

Queridos irmãos, Anchieta e Geraldo, transmito-lhes agora o que brota do meu coração para vocês neste momento que precede a imposição das mãos do Bispo que lhes transmitirá o Espírito Santo para exercer o ministério de Diácono.

1. Amem com paixão e sigam com fidelidade o Bem Amado Irmão e Senhor Jesus “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela salvação de todos”. Cativados pelo chamado do Divino Mestre, vocês deixaram tudo e, hoje, entregam-lhe a vida para amar e servir do jeito que Ele viveu e nos ensinou. Nunca se esqueçam de que “a semelhança é a medida do amor”.

2. Amem de coração e sirvam com amor preferencial os pobres, os doentes, os idosos, as crianças e os jovens, as irmãs e os irmãos que são excluídos e até descartados pela sociedade. Coloquem em prática o lema inspirador e exigente que vocês escolheram para viver o diaconato: “Pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros” (Gl 5,13b),

3. Entreguem-se nos braços ternos e misericordiosos da Mãe de Deus e nossa, a Virgem de Guadalupe. Ela torna a repetir a cada um de vocês a mesma declaração de amor que fez ao índio Juan Diego: “Eu sou tua Mãe e te carrego nas dobras do meu manto!”. Deixem-se conduzir por ela que os ensinará “a fazer tudo o que Ele lhes disser”. Que maravilhoso e surpreendente carinho de Deus: a ordenação de vocês acontece logo após a celebração da memória de São Juan Diego, dia 09 de dezembro, e na véspera da solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe.

Geraldo Baniwa e Anchieta Desano, vocês são sangue novo e sinais de esperança para Igreja de São Gabriel que precisa de ministros generosos, alegres, corajosos e inteiramente doados para inculturar o Evangelho na diversidade das etnias e na riqueza das culturas dos Povos Indígenas do Rio Negro. “A boa nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”. A Igreja de São Gabriel e o Bispo esperamos contar com o ministério diaconal de vocês principalmente nas regiões mais pobres, afastadas e abandonadas de nossa Diocese. Assim estaremos sendo Igreja em estado permanente de missão, Igreja em saída em direção às periferias geográficas e existenciais como nos convida e testemunha o querido Papa Francisco.

Ao Sr. Anacleto e Sra. Dejanira, pais do Anchieta, ao Sr. Paulino e Sra. Hilda, pais do Geraldo, aos parentes e amigos das duas famílias, transmito minhas congratulações e agradecimentos. Participo da mesma alegria e felicidade de vocês.

A cada um e cada uma de vocês que me escutam, ofereço minha prece, minha bênção e cordial abraço com afeto de irmão menor no Amor de Jesus, nosso divino e adorável Bom Pastor.

+ Edson Tasquetto Damian
Bispo Diocesano

Seminário São José, Manaus, 11 de dezembro de 2016.

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Massimo FAGGIOLI: Papa Francisco Venceu o desafio da reforma

“A popularidade de Francisco é o fruto da percepção deste papa como último bastião do conhecido contra o avanço do desconhecido. A globalização do catolicismo e do papado também envolve a globalização da definição do bispo como defensor civitatis. Não é mais somente a civitas de Roma, mas a civilização ocidental.”

A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor da Villanova University, nos EUA, em artigo publicado no jornal Il Mattino, 21-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

No domingo, 20 de novembro, concluiu-se em Roma Jubileu aberto pelo Papa Francisco no dia 29 de novembro do ano passado em Bangui, na República Centro-Africana. Foi um ano jubilar que disse muito sobre a Igreja de Francisco, porque viu Francisco agir em diversos níveis ligados entre si.

primeiro nível é o de um pontificado em que a dimensão romana e curial do papa é claramente menos distintivo da sua dimensão global. O nível institucional da ação de Francisco parece ser marginal, subordinado na agenda do papa, mas é uma marginalidade que é, em si mesmo, ação de reforma. Francisco instituiu apenas dois novos dicastérios (o dicastério para os leigos, a família e a vida, e o dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral), na ausência (por enquanto) de uma reforma abrangente do governo da Igreja.

Mas seria uma miopia não ver as mudanças radicais concretizadas e culminadas durante o ano jubilar: a contínua ênfase na necessidade de uma humildade institucional da Igreja; a nomeação de novos cardeais de todo o mundo em uma redefinição do papel do cardeal de honorificência a serviço; um governo da Cúria Romana que pode ser definido como em um estado de suspensão, como um coma farmacológico induzido pelo papa no corpo da burocracia vaticana: um dos usos do remédio da misericórdia.

segundo nível é o eclesial. Francisco concluiu o Sínodo dos bispos de 2014-2015 com a publicação, em abril passado, da exortação Amoris Laetitia sobre o amor na família, que contém importantes novas indicações sobre a pastoral para as famílias e as situações atípicas, isto é, reais e não abstratas. Trata-se do documento sobre a família mais importante dos últimos 40 anos, pelo menos, que renova o modo de interpretar uma tradição sobre o amor e a sexualidade, que remonta pelo menos ao Concílio de Trento (1545-1563).

Francisco nomeou uma comissão de estudo sobre o diaconato das mulheres, que declara aberto um debate que muitos pretendiam que estivesse fechado para sempre, e que se insere em recentes desenvolvimentos de outras Igrejas (é de poucos dias atrás a decisão do Patriarcado Ortodoxo de Alexandria de restaurar o diaconato feminino).

Inseparável do nível eclesial interno ao catolicismo é o terceiro nível, o ecumênico: o terceiro encontro (em três anos) com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, em Lesbos, com os refugiados; com o líder dos anglicanos Justin Welby em Roma (que se deteve de joelhos em oração diante do túmulo de São Pedro, em um gesto de reconhecimento espiritual da função petrina do papa); com os luteranos na Suécia para a comemoração dos 500 anos do início da Reforma protestante. Esses encontros cimentaram não só a função ecumênica do papado romano, mas também o seu reconhecimento por parte do vasto mundo das Igrejas diferentes das históricas da Reforma, com muito menos reservas em relação a alguns anos atrás.

quarto nível é o inter-religioso: o encontro de Assis para o Dia Mundial de Oração pela Paz; a publicação do importante documento da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, que declara de maneira mais forte do que no passado a irrevogabilidade dos dons de Deus a Israel; a visita à sinagoga de Roma; a audiência do Papa Francisco ao Grande Imã de al-Azhar, a escola de teologia mais importante do Islã sunita.

quinto e último nível é o da profecia social no plano mundial e global, que se cruza com os outros níveis. O encontro com o Patriarca de Moscou, Kirill, em Cuba confirmou a função de Francisco de mediador entre áreas geopolíticas e tradições confessionais não só diferentes, mas também divididas por uma história de conflitos armados e estranhamentos culturais. A viagem ao México representou o necessário apêndice para compreender a viagem de setembro de 2015 aos Estados Unidos, a já ex-potência mundial indiscutível, o país-chave para compreender as ambiguidades morais do cristianismo hoje diante das questões da imigração, da exclusão econômica e social, do nacionalismo e do militarismo em um contexto de crise do ethos democrático.

O congresso vaticano sobre não violência e paz, promovido pelo dicastério “Justiça e Paz”, junto com o movimento Pax Christi, reabriu o debate sobre paz e guerra justa no magistério da Igreja e papal, em um desafio às tentações de fazer do catolicismo a legitimação da reação do Ocidente contra o terrorismo.

A viagem a Lesbos (da qual Francisco trouxe para Roma 12 refugiados, em um Vaticano convertido, de refúgio do papa depois da perda do poder temporal do papa, em refúgio para os refugiados) precedeu em apenas algumas semanas o prêmio Karlspreis conferido ao Papa Francisco, com uma Europa que, na tentativa de se reencontrar, apela a um jesuíta argentino.

As viagens à Armênia, à Geórgia e ao Azerbaijão levaram o papa para as periferias da Europa, mas, principalmente, periferias de potências imperiais que usaram e estão tentando voltar a usar a religião como instrumentum regni.

Com o seu discurso no 3º Encontro Mundial dos Movimentos PopularesFrancisco apresentou uma alternativa radical ao atual sistema econômico e social que exclui programaticamente crescentes faixas da população, fazendo do papado a voz já dormente de um progressismo político absorvido pelo liberalismo da “identity politics”.

Nesses cinco níveis, durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o papado evidenciou de maneira cada vez mais inequívoca a linha, às vezes subterrânea, que conecta Francisco João XXIII e à sua intuição de convocar o Concílio Vaticano II.

O pontificado de Francisco repropõe, sem temores e sem apologéticas, a mensagem do Vaticano II. A mudança de paradigma teológico e eclesial em relação às nostalgias pré-conciliares é irreversível. O Jubileu Extraordinário recém-concluído consolidou o projeto do Papa Francisco, levando a uma radicalização e isolamento da oposição interna à Igreja: esse é um desafio em via de solução.

Na Igreja Católica global, hoje, não há uma alternativa intelectual e espiritualmente capaz de se propor como antagonista credível e não caricatural do catolicismo de Bergoglio. O discurso está se deslocando do plano interno eclesial ao plano social e político global. A fundamental oposição entre o espírito do tempo culminado (por enquanto) com a eleição de Donald Trump e a mensagem social do Papa Francisco é um desafio aberto diante de nós.

As palavras-chave do Jubileu e do pontificado de Francisco, misericórdia e pobres, põem o catolicismo na margem oposta em relação a uma maré crescente: o avanço dos populismos, o medo do outro nos refugiados, o colapso da fé na democracia como o colapso dos laços de solidariedade não imediatos, a popularidade do homem forte como figura salvífica.

A popularidade de Francisco também é o fruto da percepção deste papa como último bastião do conhecido contra o avanço do desconhecido. A globalização do catolicismo e do papado também envolve a globalização da definição do bispo como defensor civitatis. Não é mais somente a civitas de Roma, mas a civilização ocidental.

PDF: Massimo FAGGIOLI. Papa Francisco, VENCEU O DESAFIO DA REFORMA 2016