UTI. Aurelio SANZ BAEZA

Estou vivo, e o som monótono do respirador, das máquinas que me controlam, faz-me saber que o meu coração não parou. Não sei quando ou como cheguei aqui. O relógio da minha mente parou e deixei de ver o tempo passar naquele objecto que me situa no momento e de que, agora, não sinto falta. Os sons da minha casa, do meu trabalho, da minha rua, do bar onde tomo café ou cerveja, ficaram num disco rígido que não sei se vou recuperar. O vírus deixou tudo fora de controle, me afastou daqueles que amo. O que me chegava de longe através da mídia sobre as pessoas que estavam na mesma situação em que eu estou agora, é a minha realidade neste momento. Como tantas coisas na vida, você acha que isso nunca vai tocar em você.

Eu percebo que ha gente que cuida de mim; Não consigo enxergá-los bem, e é como estar numa nave espacial, onde só se vêem os olhos através dos óculos de segurança e das telas que os protegem de mim, semelhante aos que utilizo no meu trabalho. Sou um perigo, mas um perigo que requer sua atenção e, creio, muito afeto, embora não me conheciam antes. Não sei seus nomes, nem sua voz me chega com clareza – mas sempre sem exigências – e não entendo o que me dizem. Eu deixo-os fazer. Não consigo me mover e nem sequer tenho vontade de mover um dedo. Continue Reading →

Charles de Foucauld e o paradoxo

Só vejo um único bem em mim: é a vontade constante de fazer o que mais agrada ao bom Deus, sempre e em tudo […]. Mas, na prática, quantos fracassos! (Carta ao Padre Huvelin, 17/09/1907).

Com pouco mais de 30 anos foi arrebatado pela fé cristã e ingressou como noviço no mosteiro trapista de Nossa Senhora das Neves. Mas no anseio de uma vida ainda mais radical, largou tudo e foi para a Terra Santa.

Depois de algumas idas e vindas entre a França e a Terra Santa, Charles de Foucauld completou os estudos, recebeu a ordenação sacerdotal e voltou à África. Em Argel, viveu bem próximo aos muçulmanos e nesse período, os escritos de Foucauld revelam um entusiasta do diálogo. Continue Reading →